Resenha: Radical, Rebelde e Revolucionário - Alex Castro
Para começo de conversa, o formato em PDF e a página
quadrada foram idéias perfeitas, por facilitarem a leitura página a página em
uma tela de tamanho confortável de computador. Você lê a página e o único
clique que dá é para mudar de página, prático e confortável. Coisa de quem lê
textos na internet e eletrônicos e sabe como é a ginastica de mudar de página e
ficar abaixando e subindo um texto pela internet. A idéia de comentar a cada
texto como um blog eletrônico e por último, as imagens que se pode ampliar ao
clicar fecham o pacote com perfeição.
Agora vamos ao que interessa, o conteúdo do livro.
Apesar do autor nas primeiras páginas fazer questão de
deixar claro que o texto todo deve ser tratado ficcional, informando que o
autor tomou apenas alguns lados da história, do povo, da imagem que formou no
pouco período que passou lá, por outro lado o autor teve uma ótima iniciativa
ao gastar algumas páginas contextualizando o leitor do complexo sistema
financeiro e sobre como uma ilha tão diminuta e com leis draconianas de embarco
vem alimentando e mantendo sua população. Alías estes textos iniciais estão
escritos de forma tão didática e ainda prezeirosas de se ler, que gastando não
é a palavra correta.
Após a apresentação daquilo que o autor considerou
fundamental ao seu leitor, nossa viagem realmente tem início, onde conhecemos
de Cuba seus estereótipos, seus lugares mais interessantes, o cotidiano da
ilha, sua cultura e a forma por vezes injusta, por vezes heroica que a
revolução vem sendo sustentada.
Impressionante a habilidade do autor de se isentar da
posição de julgador antes de externar suas opiniões, contextualizando como
chegou à suas conclusões, sempre mostrando até mesmo o lado pessoal de suas
experiências e, paradoxalmente, se isentando por isso mesmo do impacto de suas
conclusões (vocês foram avisados, era pessoal ali mesmo, por quê?).
O surpreendente são os filmes. Assistindo aos mais
recentes, não se vê essa estrutura soviética de produção. Não parecem filmes ideologicamente
bem-comportados escolhidos por um comitê revolucionário. Sim, não são
formalmente ousados. O estilo, a fotografia, os roteiros, tudo é muito certinho
– com raras e honrosas exceções. Entretanto, não há um único roteiro que não
contenha fortes críticas ao mesmo governo que está pagando a conta.
Em minha humilde opinião, Perugorria é um dos melhores
atores de sua geração, de qualquer lugar do mundo. Ironicamente, quando falei
isso aqui em Cuba, discordaram de mim todas as vezes. Dizem que a opinião
corrente é que Perugorria interpreta sempre o mesmo papel. Casa de ferreiro,
espeto de pau.
Lendo o livro RRR de Alex Castro, não deixamos de saber
que em Cuba tem rodízio de água e força elétrica, que para compor uma lasanha
(ou era feijoada) levaria semanas para se obter todos os componentes
necessários, visto que na ilha (e graças ao embargo americano) poucos navios
podem deixar produtos na ilha e quando o fazem, em geral são navios cheios de
um mesmo produto, resultando em “em semanas e semanas cheias de maçãs no
mercado, para então elas sumirem de novo, por tempo indeterminado” (ou algo
assim). Mas também pela obra do mesmo autor, vemos a beleza de um povo, com sua
cultura, adaptado àquela forma de viver, com felicidade em cada uma das
pequenas coisas e que, paradoxalmente, nunca tem nada, mas também não lhes
falta nada. Vemos a beleza da ironia de casarões abrigada por famílias
populosas de pessoas paupérrimas, mas também a tristeza do contraste daquela
fleuma e austeridade dos velhos casarões perdidas para sempre.
Os dois lados estão presentes nesta obra, mesmo que o
próprio autor por vezes negue isso, só não veem aqueles cujos preconceitos pró
ou anti Cuba são maiores que seu campo de visão, aí sim, é tentar julgar uma
sala, olhando-se apenas pelo buraco da fechadura. Não obstante a obra ser
completa, ela é escrita de forma deliciosa. Vale cada centavo, cada segundo de
leitura.
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