90 dias sem me acostumar
Hoje é 31 de março. Não o hoje que eu escrevo, mas o hoje que você está lendo. Amanhã será segunda, será primeiro de abril e será um dia de muitas pegadinhas sem graça e outras com menos. Mas hoje tem um significado especial para aqueles que gostam de números redondos. Hoje é 31 de março, 31.3.13. Um palíndromo. Sério. Veja de trás para frente, forma 31.3.13. Mas não é isso que deixa esse dia mais divertido. Ainda que só teremos outro 31.3.13 em 2113. Nope.
Acontece que se fevereiro tem 28 dias, janeiro e março têm 31 dias. E duas vezes 31 mais 28, temos 90. Noventa dias. Noventa textos até hoje. Sem falta, nem falha. Textos que foram escritos num borbotão. Textos que foram escritos de uma só vez, num jorro criativo. Textos de resenhas dos livros que vinha lendo. Textos menos criativos. Textos que reciclei de outras redes sociais.
Não é tão fácil. Não é nada fácil escrever todos os dias. Mesmo livre de temas, livre da pressão de manter uma linha lógica, um estilo ou qualquer vínculo entre um texto e outro. É difícil manter a rotina da leitura e da escrita com trabalho, com a correria da rotina, com as tarefas. É mercado, carro que quebra, aulas de espanhol, passeios à delegacias, renovação de carta e uma infinidade de burocracias que matam. Cansam. Mas a pior parte da rotina é o trânsito. Perco de 2 a 3 horas no trânsito nos dias normais. Dias de visitas externas, já perdi 6 horas no trânsito para fazer duas visitas num dia.
Não se pode usar o celular no trânsito. Mesmo que esteja parado. Não posso escrever. Não posso usar o gravador para ditar meus textos para mim mesmo. Tudo dá multa. É muito sofrimento. É muito tempo perdido. Vida perdida. E quando penso nisso, só posso me lembrar do vídeo do Antônio Abujamra, no programa Provocações, da TV Cultura, A gente se acostuma...
Eu não quero me acostumar. Não quer me jogar na TV em casa. Não quero me entregar à rotina. Eu quero me obrigar à lutar, à pensar, à fazer diferente. Por 90 dias, com textos piores ou melhores, eu tenho conseguido. Escrever é meu pequeno ato de rebeldia, minha forma de me retaliar à acomodação que a cidade e a rotina tentam me impor.
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