Altas confusões na Argentina - relato de férias


Não foram beeeeeem férias. Foi corrido. E assim foram as férias anteriores. Corridas. No ano passado, a família da minha esposa vendeu sua casa da rua Pavón, em Buenos Aires. Eu cheguei na cidade há três dias da entrega da casa. Tínhamos algumas tarefas pela frente. Levar os móveis para a casa de um amigo da família, em Lanuz, região metropolitana de Buenos Aires (algo como sair do centro de São Paulo para Arujá, depois de Guarulhos), tínhamos pertences pessoais para levar na casa da minha cunhada, irmã da minha esposa. Foram três dias dormindo em uma casa já desmontada, entre móveis e sacolas. E 40º. Fornos Aires de janeiro 40º, cidade purgatório do inferno e do caos.

Na noite anterior à minha chegada na cidade, minha esposa, já dormindo entre sacolas e caixas, ouviu passos no telhado. A região que outrora era boa, próxima ao centro, 10 quadras do congresso, agora era perigosa, um grande parque há duas quadras dali havia se tornado uma favela provisória. A 20 quadras, tinha um terminal de trem Constituición, que se tornou reduto de prostitutas e "faloperos" (drogados). Minha esposa trancou como pode a casa, colocou a vassoura travando a porta e agarrou uma pá de lixo, de plástico, como arma e dormiu abraçada à ela. Ela nunca teve bom gosto para eleger armas. Em diversas ocasiões onde ela sentiu que deveria agarrar algo para se proteger, ela agarra o objeto mais leve que encontra pela frente. É uma mistura de senso de proteção com preguiça. Uma vez ela ouviu que seu pai, que morava no piso térreo da casa, parecia estar discutindo feio, e foi "protegê-lo" com um espanador. Felizmente era só uma partida de truco, ou o "ladrão" teria seu pó sacudido!

Pois bem. A mudança não era o único problema. O problema era meu sogro, o pai dela, que há dois dias de sair da casa, não tinha para onde ir e nem começado a empacotar as coisas. Foi um caos até achar onde levar o homem, que foi às 8 da manhã do dia da entrega (que seria às 10) para a casa de uma amiga dele. O "flete" que faria a mudança chegou às 9 para buscar as coisas dele.

Os outros 15 dias foram igualmente corridos, buscar uma casa, na praia, para comprar com o quinhão adquirido pela venda da casa na capital para o meu sogro. Visitamos 80 casas no litoral (que era onde podíamos pagar), 10 imobiliárias e olhamos mais de 100 catálogos de casas. Devo conhecer metade do litoral argentino, com a planta, descrição e visitas "in loco". Acho que o dia que more lá, vou até concorrer a prefeito. Finalmente, no 15º dia, achamos a casa. Linda, de esquina, com 4 árvores, terreno verde, dois dormitórios, dois banheiros (um na garagem, que tinha entrada independente), cozinha, lavanderia. Perfeita. Compramos a casa. Que passou? Toca voltar voando para Buenos Aires, fazer escritura, a reserva da casa, um documento chamado "boleto compra y venta" e pagar.

Os últimos 15 dias na capital argentina foram à trabalho, ano passado. Visitei todas as juntas industriais em busca de criar negócios na capital portenha. Final das férias de 2011, foram 3 dias em auto-exílio na minha casa, dormindo e vagando pelos cômodos. Voltei ao trabalho ansioso, pois trabalharia menos. Sem nenhum demérito ao que trabalho no serviço, apenas é menos físico no escritório.

Este ano, o desafio foi outro. Compramos nossa casa no litoral argentino. A ideia é alugar a casa para que o valor do aluguel nos ajude a pagar o que falta das prestações. Compramos de uma forma ousada, em apenas 14 parcelas, você imagina o peso delas, não é mesmo? É mais do que ganhamos minha esposa e eu, assim, o aluguel é a salvação para quitar estas parcelas. Decididos a aproveitar um pouco da casa, fomos passar o natal e o ano novo nela. Descobrir o que faltava, descobrir o que precisava arrumar e desfrutar de uma casa que podemos chamar de "nossa", ainda que não esteja paga. E faltavam coisas...

Foram 5 dias carpindo a grama (a pequena amazônia do quinta, na foto acima), rastelando, aguando, quebrou o registro do bidê, quebrou a ducha, tomadas não funcionavam. Às 10 da noite de 24 de dezembro, eu tapava o cano de água do bidê com o dedo enquanto minha esposa buscava desesperada onde ficava o registro de água da casa, ao mesmo tempo que tentava achar um encanador que pudesse nos atender assim, próximo ao natal! Sessão da Tarde total!

Ainda ttinha infestação de insetos na casa, que tem paredes de madeira revestindo a sala e cozinha. Entre a madeira e a parede tinham aranhas. Dizem que um ser humano engole em média 2 aranhas durante o sono por ano. Eu devo ter engolido a cota dos meus 30 anos nesta semana. Mas saímos da casa deixando-a perfeita. Lavei do chão ao teto com cândida, usei dois vidros de veneno, limpei os vidros, troquei lâmpadas e lavei a geladeira com uma escova de dentes antiga. Compramos veneno para caramujos para o jardim e expulsamos um sapo. Fizemos um genocídio de formigas. Encontrei uma aranha gigante, dever ser filha da Laracna, ou da Ungoliant, as aranhãs do Senhor dos Anéis (a segunda é mãe da primeira, e aparece no Silmarílion).

No último dia no litoral argentino, ao menos, encontramos um posto na praia que vende caipirinhas. E foi o único dia que fiquei na praia, às 9 da manhã, com os pés enterrados na areia, baixo um guarda sol. E tomando caipirinhas. Férias, finalmente, aos 47 minutos do segundo tempo, mas férias...

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Ainda tentando desfrutar das minhas aqui...

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