Não viver em vão...
Se uma rosa de amor tu guardaste, bem no teu coração;
Se a um Deus supremo e justo endereçaste Tua humilde oração;
Se com a taça erguida, Cantaste, um dia, o teu louvor à vida, Tu não viveste em vão...
(~ Omar Khayyám).
Hoje completo três anos de casado, e para alguns, ainda mais nos tempos de hoje, isto é uma vida. Vemos tantos relacionamentos que duram tão pouco, que se sustentam, tem a molecada do "vamos ficar", até aos sofridos adultos do "pelas crianças, não nos vamos divorciar", que fazem destes três anos, que passaram tão de pressa, parecem uma benção por encontrar alguém assim como ela, que me suporte e me ature. Por que eu não sou fácil mesmo. Meu temperamento é difícil e eu sou chato com as coisas, principalmente limpeza. Não por acaso eu cuido da cozinha e do banheiro, na hora da faxina. Também da roupa, lavar e passar (mas aí é pessoal, eu não queria ninguém que lavasse minhas freadas, não é mesmo?).
Hoje é, além de nosso aniversário de casamento, a data na qual ela volta da Argentina, e para isso, há de salar em saudades também:
"A saudade é calculada
Por algarismos, também;
Distância multiplicada
Pelo fator querer-bem"
(~Manuel Bastos Tigre 1882-1957)
Mas estou digressando, eu queria mesmo, hoje, fazer deste pequeno texto, um louvor, em agradecimento à Deus, por esta pessoa maravilhosa que me tocou a vida, minha esposa.
"Pela tua graça, mulher, conquistastes todos os corações. Tu és a obra sem mácula, saída das mãos do Criador."
"Esposa de pura origem, ó perfumada! Sob as notas de tua voz as pedras levantam-se dançando e vêm, em ordem, erguer um edifício Harmonioso!" (~Mil e Uma Noites, tradução de Nair Lacerda e Domingos Carvalho da Silva)
"Cantai, ó aves, as vossas cantigas mais puras! Brilhai, ó Sol, com a vossa mais doce luz!
Deixai voar as vossas flechas, ó Deus do Amor!
Mulher! É grande a tua felicidade: bendito seja o teu amor."
(~ Tagore, A Alma das Paisagens, pág. 260).
É tão surpreendente como, depois de tudo ter ido tão rápido à princípio, os dias, na verdade, continuam indo rápido. Ainda me lembro como se fosse ontem: mal fazíamos três meses juntos e já estávamos alugando um apartamento. Que passo, meu Deus, que passo. Eu que passei a vida em inteira sendo na barra da saia da minha mãe, numa casa com carpete, empinando pipa no ventilador e tinha um poodle macho chamado princesa, de súbito, deixando o lar para ir morar com alguém. E sob quais circunstâncias, nem queria saber, me pague uma bebida e te conto a história toda!
Naqueles primeiros dias, morando juntos, ainda antes de anunciar qualquer coisa em casa, mas eu já era mais visita que morador alí, nós tínhamos em nosso imenso apartamento, 68m², um colchão de solteiro, uma grelha elétrica e uma cafeteria. Naqueles tempos eu saída tarde do trabalho, eu gostava de me despedir dos alunos da noite durante o coffe break deles, e saída sempre por volta das 20, 20:30, e minha esposa me ligava: "compra uma latinha de cerveja hoje?" e eu perguntava, "mas uma só, por que? Já tá com sono?", e ela me recordava, "Não, é que esquenta, e não temos geladeira!". De fato, como aquela música do Legião Urbana que eu amo tanto, a geladeira levaria umas três semanas para chegar. Mais outro tanto para chegarem os móveis, foram quase dois meses vivendo de coisas prontas entre caixas de móveis por montar, e duas semanas completas sem chuveiro quente.
O que parecia que poderia causar algum atrito, toda esta falta de estrutura a um garoto mimado, ao contrário, só nos aproximou. Três meses mais tarde morando juntos, seis exatamente desde que começamos a sair, nos casaríamos. E, segurem seus chapéus, eu que nunca saía de casa sozinho, fui com minha esposa para a Patagônia! Mas só isso já é outro texto. O que eu quero mesmo dizer é, parece que foi ontem que eu estava em Puerto Madrin, mas já vai fazer três anos. Que Deus mantenha esta união e que sigamos assim, sem nunca ver o tempo passar, ocupados demais um com o outro. Amém.
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