Parabéns, São Paulo, 458 anos

São Paulo é uma cidade que nasceu grande e nobre. Pouco importa agora o interesse de Portugal por estas terras, ou a corrida da igreja católica contra os evangélicos, na época apenas protestantes, prefiro acreditar na pureza das intenções daquele homem que fez nascer São Paulo, diretamente do pátio do colégio, o missionário José de Anchieta, com a função de trazer educação, propagar a religião e servir de ponto para os futuros bandeirantes, São Paulo já nasceu imbuída de significado e importância. Tantas outras nasceram assim, mas o povo iria confirmar, com seu orgulho que constitui a principal característica dos paulistas, paulistanos, a existência desta cidade, que nunca foi capital do país, não oficialmente, ao menos.

São Paulo do colégio, dos bandeirantes, do café, dos barões do café na nossa Avenida Paulista, São Paulo que por anos e anos, teria a maior prova de amor de seu povo no último século, quando este se envolveu definitivamente na política, governando no café-comleite, gritando revolução contra o país por se sentir traída politicamente, quando Júlio Prestes tem o cargo tomado por Getúlio Vargas, no que seria chamado de revolução de 1932, para nós, e meramente revolta dos paulistas, para o resto do Brasil.

Este foi o movimento cerne do amor dos paulistanos por sua cidade imaginada, pela qual estavam dispostos a morrer. As pessoas doaram ouro para a cidade comprar armas, em seu levante de guerra contra três frentes, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná. Na ausência de munição, sobrava vontade e garra, matracas viravam metralhadoras na noite, trens pretos seriam protegidos pelos boatos plantados que era o trem blindado, protegendonossas fronteiras.

Movimento que nasceu da revolta de Getúlio assumir um governo ganho por Júlio Prestes e de maior revolta com a morte de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, no dia 23 de maio de 1932, data que batizaria uma avenida de São Paulo que hoje conduz ao obelisco em homenagem aos heróis da revolução. Avenida que não por acaso segue paralela em muitos trechos à nove de julho, data do início da revolta armada. E revolta que termina com a rendição, de líderes já preocupados com seu povo, numa derrota inglória diante de tanta determinação de se fazer justiça, no dia vinte e oito de setembro do mesmo ano, mil novecentos e trinta e dois.

Não importa se o movimento foi manipulado por meia dúzia interessada em colocar Júlio Prestes de volta na presidência, não importa se a rendição foi política, não hoje quando já fizemos as pazes com os estados vizinhos e não nos importamos em carregar o país nas costas exclusivamente da classe média paulistana, o que importa é a determinação e vontade com que o povo comprou esta briga, a vontade com que o colégio de direito tanto provocou o batalhão do exercito a ponto de ser alvo das balas de seus canhões. Importa que dentre os cidadãos deste
parco pedaço de território, mesmo aqueles que não foram lutar, deram seu ouro por nossa cidade.

Se as cidades não existem fisicamente, se é apenas a materialização do desejo coletivo de vários povos pertencerem a um só conjunto e estar debaixo de uma mesma bandeira, então São Paulo é a mais autêntica de todas as cidades, feliz por completar quatrocentos e cinqüenta (e oito) anos sob as bandeiras do estado e do município de São Paulo, que ostenta orgulhosa o escrito NON DVCOR DVCO, que significa NÃO SOU CONDUZIDO, CONDUZO.

Parabéns São Paulo, por seus anos, por seu povo que a ama. Por sua Avenida Paulista, orgulhosa, por seus times vitoriosos e pelo seu povo apaixonado.

Originalmente publicado, por mim, no jornal de cultura PNOB, número 7. Faça download dele aqui.