Animais de estimação, parte 1, peixes


Talvez eu não devesse escrever isso, pois não sei até onde crimes contra a fauna prescrevem e eu não quero eco-chatos na minha porta fazendo piquete ou um barco do green peace me seguindo pelas enchentes paulistanas, mas, veja só você, um escritor querendo dissimular que escolhe sobre o que escrever...

Não meus amigos, um escritor escolhe sobre o que escrever, ele só psicografa textos prontos que o adotam... Nem os erros gramaticais e faltas de vírgulas são minha culpa. Juro! Tudo culpa da Inspiração e de um palm descalibrado. Assim, acho que é melhor fazer isso logo e escrever de qualquer forma, de um só fôlego.

Se posso apenas acrescentar algo em minha defesa é que nenhum dos meus crimes contra a natureza foi premeditado ou doloso. Foram todos culposos, culposos da minha paixão não recíproca por animais de estimação, mas chega de digressão e vamos ao texto, desde o começo...

Não lembro quais foram, ou em que ordem, que uma verdadeira arca de Noé passou pela vida minha e de meus irmãos, um animal de cada vez,  mas tenho certeza de uma coisa: dos animais que passaram em casa, o segundo lugar na categoria "duração"  foram os peixes...

Quando criança você poderia facilmente me encontrar pelos apelidos de bebe monstro ou Robocop jr. Primeiro foram os tampões para a vista. Um adesivo que eu usava alternadamente sobre cada olho, para corrigir uma síndrome de olho preguiçoso que fez passar um par de anos com uma fantasia permanente de pirata.

Depois foram as botas ortopédicas, de um material tão duro que deveria ser de couro de casco de tartaruga com lindas hastes metálicas que emergiam delas e se afivelavam no meio da canela. Supostamente era para corrigir minha postura e uma ligeira escoliose da coluna, mas era na verdade um ótimo acessório para brigas, nada machucava melhor uma canela alheia que um bom chute com aquilo nos pés. Muito melhor que cuturno, soldados em guerra deveriam é usar botas ortopédicas!

Finalmente, veio a moda dos aparelhos dentários e foi quando vieram os peixes. Uma dentista disse que eu teria que usar aparelhos para juntar meus dentes e o único dentista que o plano do meu pai cobria deve ter aprendido a profissão com o próprio Marques de Sade e feito estágio nos porões da ditadura militar, como torturador. Em resumo: flor de ser humano!

Eu, claro, não meramente usei aparelho fixo superior e inferior, tinha que usar um externo também, que não renderam nem um pouco de  piadas dos coleguinhas, e nem me atrapalharam em ser popular na escola, nãããããão... Foi neste ponto que eu quis um mascote, alguém para quem eu não fosse só mais um nerd. E compramos dois bandeiras, dois paulistinhas, dois cascudos e dois beijadores.

Os peixes, em seu aquário sextavado e demasiadamente azul conviveram bastante tempo com a gente. A cada visita ao meu dentista eu lhes comprava artêmias, um bichinho feio, e vivo, que os peixes adoram caçar e comer. Na época eu gostava de agradar aos peixes após minha sessão de tortura, fazendo algo gentil após o meu sofrimento, mas hoje eu acho que eu vingava o sadismo sofrido com aquelas pobres comidas vivas...

Mais de um ano se passou até que os peixes morrecem, um a um, sendo devidamente sepultados na privada com uma salva fúnebre de uma descarga. Embora peixes não sejam os mais bricalhões dos mascotes, devo dizer que foram bons companheiros durante meu sofrimento, se por um lado eu desisti dos aparelhos e ainda tenho dentes lindos e tortos até hoje, por outro, não tive que fazer terapia, isto é, tive, mas não por culpa do Dr. Sade.

Eu não sei se os peixes morreram de causas naturais (qual o tempo de vida de um peixe?), ou alguma doença que abateu o aquário, com uma exceção, e aproveito para deixar a dica: se seus peixes têm mais de 10 centímetros, não gaste 10 reais num cardume de pequenos neons. Os meus não duraram nem 10 minutos para descobrir o que acontecia com as artémias.

Ainda sobre peixes, lembro que depois destes da minha infância, meu irmão caçula comprou para sí e sua própria infância um casal de betas. Péssima idéia, pois ao que parece betas não nascem de relações com outros betas, mas nascem feito macunaínas, a cada beliscão e pisão no pé de alguém, um amargurado beta surge no mundo.

Esta relação do meu irmão e seus betas durou pouco mas ainda menos durou A beta, espancada por seu marido violento. Não adiantou nada a tarde que minha mãe passou educando o macho, e por educando eu quero dizer batendo nele com um palito de comida japonesa a cada vez que ela o via agredindo a pobre fêmea. Parece que não se ensina truques novos a um beta velho.

Comentários

odetecampos disse…
Belas lembranças, ainda que na época não parecessem , hoje tudo isso mos construíram se algum modo
Unknown disse…
Uma ótima crônica.Tive uma par de betas.Primeiro uma fêmea,que morreu(assim acredito) por excesso de comida.Depois,não satisfeito de matar uma,comprei um macho,que viveu ate bastante tempo.Morreu na viagem de 2 horas que fizemos de carro.Mais uma vez o funcionário do pet-shop havia acertado.O peixe não gostava de muita movimentação.Me fez lembrar dos poucos dias dos meu primeiros animais.Obrigado!
Editora Delearte disse…
Assassino de betas! Hehehe!
Editora Delearte disse…
A realidade é que peixe é um bichinho destinado a morrer em mão dos seres humanos...olha o video senão e diga se não devemos matá-los antes que eles nos matem!?

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