Animais de estimação, parte 2, cães


Na minha carreira de nerd supremo do primário e secundário eu ganhei um par de prêmios além de socos, apelidos e brincadeiras que fizeram muito pouco pela minha autoestima. Um dos prêmios foi no 5° ano, como maior leitor da escola nos quintos anos.

A professora que fez parte da  comissão julgadora também me dava aula de português e nos encontrávamos sempre na biblioteca, foi a mesma professora que numa reunião de pais e mestres reclamou aos meus pais que eu era muito caxias. Pensando hoje eu não deixo de me perguntar qual não era meu grau de retardo mental que até mesmo a PROFESSORA me chamava de caxias!

O prêmio hoje faz sentido mas na época eu fiquei um pouco decepcionado, foi um livro, é claro! Uma coletânea de contos chamada ''A palavra é..." e a mim me coube o tema terror. Foi muito bom o livro, mas por algum motivo eu queria um trofeu, minha mãe tem ela própria um troféu que ganhou por uma redação que fez...

Outro prêmio que ganhei foi na aula de geografia no mesmo quinto ano. Eu realmente devo ter sido caxias! Me lembro com clareza, era a última aula antes do intervalo e a professor' começou anunciando: Sua cachorra havia dado filhotes e ela iria premiar um dos alunos com um dos filhotes e havia um empate na sala: eu, claro , e minha rival nerd, a Juliana! A Juliana declinou e coube a mim o papel de ganhá-lo. Bicho, esse foi um prêmio que me deixou contente!

Fomos, minha mãe e eu, buscá-lo depois da aula na casa da professora. Era um destes filhotes perfeitos, todo preto com a ponta da cauda e as patas castanhas claras. Um viralatês autêntico. Batizei-o com a criatividade de uma criança de 9 a 10 anos de Tigre!

Cheguei em casa com Tigre em meu colo e ele fazia a festa de todos os filhotes. Meu irmão caçula ao vê-lo se desesperou, subiu na cadeira e repetia "não solta ele! não solta ele!", e eu, claro, solto aquele filhote de 5 semanas e digo: "massacra, Tigre, massacra!", ao que Tigre, vira pra mim chorando e com medo. Ambos sofreram de pânico à primeira vista.

Passamos a tarde e o máximo da noite que uma criança deveria ficar acordada explorando o cãozinho, não que ele próprio fosse muito de brincar, mas descobrimos que um filhote pode urinar uma quantidade bastante desproporcional ao seu tamanho, descobrimos sua aversão à jornais e preferências por tapetes para suas necessidades sanitárias. Por fim descobrimos que as necessidades 1 e 2 de filhotes só se diferenciam pela cor, já que ambas são líquidas.

Uma descoberta adicional através do Tigre foi que meus pais nunca tiveram cachorros, meu pai só teve como animal, além dos filhos, uma galinha chamada Chimbica e um peru, que ele ganhou numa rifa em agosto, e que até chegar o natal ele o adotou e o batizou de Brederodes. Minha mãe por sua vez só teve gatos na sua infância e quando ela veio à São Paulo seu padrasto lhe deu uma jaguatirica chamada Samão, que infelizmente, alongou, isto é, foi embora.

Infelizmente Tigre teve vida curta em casa. Quando Tigre começou a chorar a chorar à noite, e chorou por toda à noite, meus pais, preocupados que isto fosse durar para sempre e prevendo reclamações dos visinhos decidiram retorná-lo ao remetente. Coitados, pois então  fomos nós, filhos, que passariam a noite chorando.

Nossa casa ainda receberia outras tentativas de cachorro, uma cocker spanil chamada Tigresa, um labrador areia que não lembro o nome mas lembro que peidava uma barbaridade e por fim minha prima que morou conosco um tempo teve ela própria um filhote. Mas os cães nunca tiveram estadia longa em casa. Como costuma dizer meu pai, não precisávamos de animais, tínhamos uns aos outros! (mas ele era a mesma pessoa que dizia: "ter filho é muito bom, pena que dura muito!").

Comentários

odetecampos disse…
Nossa, está me parecendo mais histórias de terror
!
Editora Delearte disse…
Quando falamos de animais, falamos de gatos também oy você os considera entidades superiores? :-)

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