Resenha: Angus, de Orlando Paes Filho
O livro que lançou Orlando Paes Filho tem sua própria
saga a ser narrada, antes de podermos olhar sua história com maior cuidado e
critério.
Lançado pela editora ArxJovem, o primeiro livro vem muito
ilustrado, com grande trabalho gráfico. No entanto é o único livro por essa
editora, por autor e editora não conseguirem chegar a um acordo sobre o projeto
de marketing do livro, a parceria foi rompida. A ArxJovem ficou com o primeiro
livro, que tinha publicado e o segundo engavetou, alvo até hoje de uma disputa
jurídica.
Orlando Paes Filho, depois de romper com a ArxJovem foi
buscar abrigo em nova editora, Planeta. Uma editora internacional com bom
capital, comprou o projeto gráfico e o trabalho do Orlando. Ela publicaria o
terceiro livro da saga de sete, o segundo do Angus a chegar no mercado, além de
uma enxurrada de material de apoio, um livro de RPG e livros de cenários e
povos mostrados no livro, no entanto, mais uma vez, editora e autor iriam
discutir até a rixa virar racha e mais uma vez Orlando encontra-se sem editora.
Sobre o livro em si, observando-se literariamente apenas,
é um livro pobre. Construído todo na primeira pessoa, por vezes torna-se lento,
cansativo ou rápido demais, como as batalhas finais, dando traços de uma fadiga
do autor por terminar o livro. Trechos importantes como o fim do rei Rohdri e
da princesa Gwyneth são apenas citados enquanto, dada suas importâncias na
história, nada mensura-se.
No entando o maior valor da obra do Orlando não está nas
sublinhas literárias. Não há "não ditos", citações veladas nem
trechos dúbios onde críticos possam se divertir. Schuartz, salvo engano, jamais
dirá "salvo engano" sobre esta obra. O maior valor da obra Angus, o
primeiro guerreiro, de Orlando Paes Filho, está na lição moral religiosa que o
livro passa. Os ensinamentos de moral, os valores católicos, ou além, bíblicos,
e o herói clássico trazem de volta ao cotidiano um conceito abandonado pelas
gerações jovens atuais. Em meio a anti-heróis e até heróis pícaros, surge um
herói clássico, movido por ideais nobres, resgatando conceitos que deveriam,
mas não tem sido passados às crianças de hoje.
Isto sem falar no conteúdo historico irrepreensível do
livro, mostrando a região da Inglaterra, Escócia, Irlanda e citando Alemanha e
países baixos, narra todos seus povos, paisagens e costumes com precisão
universitária. De fato o autor reconhece, com orgulho, a participação de
historiados na composição da sua obra, onde pudesse garantir esta fidelidade
histórica. Há reveses, claro, como as ilustrações com mulheres esguias e homens
de corpos colossais. Há vikings na sua caracterização estereotipada, com elmos
de chifres (coisa que nunca usaram de fato) e machados de lâminas duplas (coisa
que também não utilizavam), mas são detalhes que se perdem diante da imensidão
de conteúdo histórico e valores morais que hoje temos como piegas, mas tão
importantes para passarmos à novas gerações: fé, esperança, caridade,
prudência, fortaleza e temperância e justiça, de Deus, claro.
É uma obra infanto juvenil literariamente mediana, mas de
conteúdo de imensa importância que, além de apontar os mais jovens no caminho
da leitura (pois trata-se de considerável catapargio com suas quase 400
páginas), também aponta estes jovens já no bom caminho, o caminho do sábio
Angus, que aprende que só há um meio de se vencer, fazendo o bem.
Paes Filho, Orlando
Angus: livro um: O primeiro guerreiro
São Paulo, 2002
398 páginas, valor médio: 50 reais
PS: Esta resenha já é bastante antiga, mas estou
publicando-a por que o livro é realmente muito bom, de leitura gostosa e
fluída, e também por que o autor foi incrivelmente gentil e me escreveu,
comentando a crítica que fiz ao livro, de uma maneira espetacular.
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