Dei pro Jô, no elevador

Eu só contei a história de ontem, sobre os livros que a Andross Editora publicou com um conto meu, para poder chegar nesta história... O dia que eu dei para o Jô, num elevador...

Jô Soares. Eu tive meu primeiro contato com o gordo quando ele era colunista da revista Veja, e isso faz tempo. Antes da Veja virar uma caricatura de si mesma como é hoje, um folhetim de extrema direita e de uma agressividade gratuita e inútil com os poderes, eu adorava essa revista.

Confesso, mesmo durante a fase folhetim direitista eu ainda apreciava o Diogo Mainardi. Mas nem isso, nem isso mais... O Jô Soares deixou a revista Veja justamente para se dedicar à carreira de escritor com mais empenho. Em 1995 ele lançaria o livro O Xangô de Baker Street. Excelente livro com o famoso detetive inglês e seu inseparável ajudante, vindos para o Brasil. Com o humor, hora refinado, hora escrachado, o livro é uma delícia, de se ler de cabo a rabo num final de semana.

Depois eu comecei a assistir o Jô Onze e Meia, no SBT ainda. Era um programa fantástico, que nunca começava às onze e meia. Mas o Jô estava na fase de descoberta do formato de talkshows, com muitos objetos, tinha um bode de pelúcia (bode expiatório) e uma série de brincadeiras que deixam o programa muito interessante. Foi nesta fase que eu comprei o CD, acho que único que ele lançou até hoje, Jô Soares e o sexteto. Fantástico, escuto até hoje, sempre que posso.

Quando o Jô Soares foi para Globo, junto com ele foi o seu filme para as telonas, e em 2001 O Xangô de Baker Street ganhou as telefonas. Minha decepção com o filme ficou no ato de ter sido uma adaptação ipsis literis do livro, sem novidades ou surpresas para o leitor da obra. Ou ao menos me pareceu assim. Teria que rever o filme, quase já faz parte da regra dos 15 anos.

Em 2007 Jô Soares estrearia seu segundo CD na forma de uma peça de teatro, Jô Soares em Pessoa, uma adaptação de 12 poemas de Fernando Pessoa (10 de Álvaro Campos, pseudônimo de Fernando Pessoa marcado pelo humor), que foram musicalizados e adaptados para os palcos. Eu, fã-boy do gordo, comprei o CD, uma caneta de escrever em CD, para um autografo depois da peça, e uma cópia do meu livro recém lançado. Pensei que ele poderia vir a mostrar no início do programa, como ele faz para prestigiar os ilustres que lhe enviam presentes e cortesias, mas isso não ocorreu. Não importa, o que importa era que meus planos era vê-lo depois do teatro.

A apresentação foi no teatro da Livraria Cultura da Paulista, Eva Herz, e eu comprei os ingressos para a primeira sessão. Carregando o CD do intérprete, a caneta para escrever em CD que tinha sido surpreendentemente difícil de achar, em plena avenida Paulista e uma cópia, previamente autografada, da coletânea de contos com um conto meu inserido, parti para a livraria, tomei um café, enrolei, enrolei, que eu havia chegado muito cedo, e quando vejo, ficou tarde. Corro para o elevador. Lotado. A porta já fechava, quando alguém se aproxima pedindo para segurar a porta. Gordo ainda por cima...

Era O Gordo. Jô Soares. Alí, no elevador, comigo e uma profusão de estranhos. Meu Deus! Eram três andares todinhos de subida com o Jô! O primeiro já passava, quando eu pensei que deveria dizer algo, mas foi ele mesmo que quebrou o silêncio sepulcral: bonitas unhas do pé, ele disse a uma moça alta no elevador. Nem esperei ela responder: Jô, eu iria mesmo procurá-lo após o espetáculo, gostaria que assinasse um CD meu prá você e um livro meu pra mim. Ou era o contrário?

Jô, sempre educado, insistiu para que ninguém procurasse por ele depois da peça (acho que ele fez xô... xô... com as mãos), assinou o CD e nos desejou um bom espetáculo, e correu para outra porta do teatro. Ah sim, ele levou o livro que eu dei para ele. Eu dei para ele ainda no elevador...

Comentários

Marcos Claudino disse…
Me lembro bem da sua fase Diego Mainardi... Muitos xingamentos meus e do Môa... rsrsrs... Abração!!

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