Escrever é ler, que leva a escrever mais...

Escrevendo diariamente eu senti falta de comparar meus novos textos, em geral, crônicas, com meus velhos contos. Textos puramente adolescentes, carregados de desilusão, raiva e sarcasmo, como todos os textos de adolescentes, mas achei ali uns 20 que eu gostei do que escrevi. Talvez soem demasiado adolescentes hoje, mas muitos com 10 anos, alguns com mais que isso, e as críticas continuam as mesmas. Incrível.

Observei que meus contos são baseados em São Paulo. Como escrevia inspirado por regiões, lugares que eu conhecia, eu reconhecia os lugares conforme lia. Talvez isso não passe com todos, espero ter então descrito bem nos textos estas regiões. Notei também como os textos são auto-referentes, o lugar onde se passa um texto pode ser citado em outro. Uma pessoa que figura num texto é mencionada no outro. Eu sorri meio bobo, sozinho, lendo aqueles textos.

Me deparei com uma missão, mais uma então, reunir todos aqueles textos, de arquivos do Word, do meu velho jornalzinho em PDF e de sites de literatura que contribuí no passado e reuní-los num só lugar. Corrigir o português (Deus, como escrevia errado), acertei alguns termos, atualizei outros. Eu tirava o pó, polia e cortava as partes ruins. Como fazemos com conselhos, como disse Pedro Bial em "Filtro Solar" (e alguém antes dele): "Dar conselhos é uma forma de pegar o passado da lembrança, repintar as partes feias, limpa-lo e vende-lo por mais do que vale". E o resultado foi uma coletânea bastante bonitinha. De textos adolescentes, eu recordo.

Decidi tirar os impublicáveis desta primeira safra. Ainda sou uma pessoa pública como vendedor de software e gostaria de conservar certo pudor. Mas 13 deles ficaram ainda publicáveis. Dividi então em 3 categorias, agreguei-os sem separa-los fisicamente (ou virtualmente), entre: violência e diferença social, medo da velhice e o cansaço com a sociedade.

Da primeira safra, estão "Quero chocar", "Pobre Paulista" e "Até quando", com inspirações inevitáveis no rock da minha época, Raimundos, Ira! e Engenheiros do Hawaii guiam, literalmente no terceiro texto, os contos. A pegada de Marcelino Freire também se faz notar com facilidade no texto "Pobre Paulista", a forma versada em proza que o autor carregou todos seus livros me impressionou muito na época, e impressiona até hoje.

"Estória Insólita", "Seu Vavá", "Um domingo qualquer", "Adelaide", marcam o medo da velhice. Como todo jovem, eu sabia que o reator atômico que me movia contra o mundo um dia iria se apagar. Por causa de um amor, por causa de filhos, pelas contas para se pagar. E eu temia o que sobraria de mim. Até agora, o reator está calmo, comigo caminhando para a meia idade, mas por outro lado, acho que o Emanuel de 199x iria aprova-lo. Nestes textos Clarice Lispector e o filme "O clube da luta" marcaram seu espaço. Marçal Aquino também tem culpa no cartório. Escrevi uma parte destes textos durante a transformação de um dos seus textos em filme, O Invasor, com Paulo Miklos, Marco Ricca e Alexandre Borges.

A última parte fica então com os textos "O metrô", "O homem que fugiu da rotina", "Lúcia e o mercado imobiliário", "Carochinhas modernas", "A visita que veio do céu" e "Dizem por aí". São os textos que deram nome ao livro, textos sobre fugas, desistências, perdas e derrotas. Todos têm uma ponta voltada para o absurdo irônico, uma crítica à sociedade paulistana de princípios de 2000 e algo de referências também. Roubei Lúcia de Ivana Arruda Leite. Não me consta que ela tenha escrito alguma Lúcia, mas do livro "Falo de Homem", onde me inspirei para criar a personagem. Talvez não tenha nenhuma relação, mas a biassociação quando começa, ninguém sabe onde irá levá-lo. Marcos Rey, Salman Rushdie, Saramago, tanta gente me inspirava quando escrevi estes e alguns outros textos.

Com a coletânea feita, limpa do mofo e dos erros gramaticais que encontrei, só me faltava uma coisa. Publicar num livro e deixar à disposição de quem quisesse. E foi o que fiz. Até ISBN já solicitei. Está chegando. Até lá, quem quiser baixar/comprar a versão um, a casa agradece. Mas se comprar, me escreva, nem que seja um "joinha", ou para falar mal. Mas escreva...

O livro está disponível no Clube de Autores, no link: https://clubedeautores.com.br/book/139663--Rotas_de_Fuga.

Comentários

Editora Delearte disse…
Ansiosa por ver a edição impressa!

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