Limpando meu banheiro
Desde que me casei, eu vivo numa pendura danada. Não pelo casamento, ao contrário, casei com um professora primária que poderia ser ministra da economia. Num cenário hipotético onde eu me torne ditador, ela seria minha ministra da economia (e a real ditadora, devo dizer). Ela me fez ver o quanto viver pendurado nos cartões e no vermelho era ruim e que eu vivia numa montanha russa.
Eu tinha quase consciência do fato, só ignorava conscientemente. Eu repetia para mim mesmo, "a gente vale o quanto deve" e eu era valioso. Muito valioso. Mas apenas para os bancos, e alguns interesseiros que se beneficiavam da minha benevolência em regalias e contas do restaurante. Na melhor filosofia do pai ausente, compensava minhas ausências constantes, com todos, com presentes. Hoje eu sou apenas ausente. Presente? Nem para meus pais.
Os primeiros resultados desta minha mudança de vida vieram quando a então minha futura esposa e eu viemos a morar juntos. Não tínhamos empregada. Isto é, não foi particularmente um choque para mim, e muito menos para ela. Filha de pais separados, ela aprendeu a se virar desde cedo e com uma irmã caçula para cuidar. Depois, com quase 4 anos no Brasil, vinda só com o dinheiro que tinha no bolso, ela também fez a economia dela render. Ela não tinha para quem ligar se faltasse dinheiro para o aluguel ou para a comida. Então, com uma pirâmide imaginária de Maslow na parede, ela comprava coisas à medida que suas necessidades primárias eram atendidas e só se havia uma reserva para continuar atendendo-as, digamos, por mais seis meses, aí ela gastava dinheiro com outras coisas.
Quando começamos a namorar, ela morava numa pousada. Dividia o cômodo dos fundos de uma casa com um uruguaio. Ator, esse uruguaio até fez figuração no filme "Ensaio sobre a cegueira". O quarto dela era a definição de espartano. A cama era da casa, o colchão de um amigo. Eram mais duas cobertas e a roupa no armário, este, também da casa. E tinha o rádio relógio. O radio relógio não tinha o botão do volume mais. Acho que ela o achou na rua assim, quebrado no volume máximo. Sem problemas. Depois de despertar como se sua casa estivesse sendo invadida pela torcida do corinthans (é sério, o rádio era barulhento), era só jogar duas ou três cobertas dobradas sobre ele e o volume ficava quase tolerável. Em 2008 ela ainda tinha um CD player e lamentava a falta do walkman, quebrado. Sua "mudança" da casa dela coube num fiesta 1996.
Na "nossa" casa, então, dividimos tarefas. Ela com a comida, que ela prepara coisas mais gostosas e variadas do que eu, e eu limpo a casa. Ela também me ajuda às vezes, com a sala e quarto, mas o banheiro... Ah, o banheiro é só meu. E como valeu então outro fator importante da minha vida: minha mãe sempre "pedir" que ajudássemos na casa (eu e meus irmãos, não eu e minha esposa, nem no país ela estava ainda), quando éramos crianças. Ela só permitia que nós passássemos para outra tarefa quando estivesse a contento a que terminávamos. E ela era rigorosa. Teve um dia que só o banheiro eu devo ter limpado umas três vezes. Hoje, pode-se comer no chão do meu banheiro sem medo. Sou expert nisso.
E hoje, quando limpo meu banheiro, mesmo pudesse ter uma empregada em casa, eu fico satisfeito com a louça branca, impecável, que eu limpei, lembro da educação que tive dos meus pais e de que não apenas estou economizando uns cobres, estou tirando alguém de fazer esta tarefa terrível, viver de limpar o banheiro alheio. É até terapêutico.
Eu tinha quase consciência do fato, só ignorava conscientemente. Eu repetia para mim mesmo, "a gente vale o quanto deve" e eu era valioso. Muito valioso. Mas apenas para os bancos, e alguns interesseiros que se beneficiavam da minha benevolência em regalias e contas do restaurante. Na melhor filosofia do pai ausente, compensava minhas ausências constantes, com todos, com presentes. Hoje eu sou apenas ausente. Presente? Nem para meus pais.
Os primeiros resultados desta minha mudança de vida vieram quando a então minha futura esposa e eu viemos a morar juntos. Não tínhamos empregada. Isto é, não foi particularmente um choque para mim, e muito menos para ela. Filha de pais separados, ela aprendeu a se virar desde cedo e com uma irmã caçula para cuidar. Depois, com quase 4 anos no Brasil, vinda só com o dinheiro que tinha no bolso, ela também fez a economia dela render. Ela não tinha para quem ligar se faltasse dinheiro para o aluguel ou para a comida. Então, com uma pirâmide imaginária de Maslow na parede, ela comprava coisas à medida que suas necessidades primárias eram atendidas e só se havia uma reserva para continuar atendendo-as, digamos, por mais seis meses, aí ela gastava dinheiro com outras coisas.
Quando começamos a namorar, ela morava numa pousada. Dividia o cômodo dos fundos de uma casa com um uruguaio. Ator, esse uruguaio até fez figuração no filme "Ensaio sobre a cegueira". O quarto dela era a definição de espartano. A cama era da casa, o colchão de um amigo. Eram mais duas cobertas e a roupa no armário, este, também da casa. E tinha o rádio relógio. O radio relógio não tinha o botão do volume mais. Acho que ela o achou na rua assim, quebrado no volume máximo. Sem problemas. Depois de despertar como se sua casa estivesse sendo invadida pela torcida do corinthans (é sério, o rádio era barulhento), era só jogar duas ou três cobertas dobradas sobre ele e o volume ficava quase tolerável. Em 2008 ela ainda tinha um CD player e lamentava a falta do walkman, quebrado. Sua "mudança" da casa dela coube num fiesta 1996.
Na "nossa" casa, então, dividimos tarefas. Ela com a comida, que ela prepara coisas mais gostosas e variadas do que eu, e eu limpo a casa. Ela também me ajuda às vezes, com a sala e quarto, mas o banheiro... Ah, o banheiro é só meu. E como valeu então outro fator importante da minha vida: minha mãe sempre "pedir" que ajudássemos na casa (eu e meus irmãos, não eu e minha esposa, nem no país ela estava ainda), quando éramos crianças. Ela só permitia que nós passássemos para outra tarefa quando estivesse a contento a que terminávamos. E ela era rigorosa. Teve um dia que só o banheiro eu devo ter limpado umas três vezes. Hoje, pode-se comer no chão do meu banheiro sem medo. Sou expert nisso.
E hoje, quando limpo meu banheiro, mesmo pudesse ter uma empregada em casa, eu fico satisfeito com a louça branca, impecável, que eu limpei, lembro da educação que tive dos meus pais e de que não apenas estou economizando uns cobres, estou tirando alguém de fazer esta tarefa terrível, viver de limpar o banheiro alheio. É até terapêutico.
Comentários
Pelo que percebi o capitalista da relação é a sua esposa então..hehe..
Capitalista que não acumula capital não é sustentável...rsrs
abraço
É o cachorro que balança o rabo e não o contrário sacou camarada?;)
Portanto vamos começar a poupar ok..rsrs