Limpar seu próprio banheiro - uma análise da violência

Eu ia começar este texto com algum outro nome, mas o nome que o autor original deu ao texto dele - e depois o Cris Dias continuou, torna impossível fazer da análise do autor algo diferente. Fica este nome mesmo, acrescido de um sobrenome que tem a naturalidade de um terceiro braço num ser humano (ou seja, não fica natural).

Vendo todos os dias o Bom dia São Paulo, como anda alarmante a criminalidade e a violência na minha cidade, é impossível não ficar ao mesmo tempo preocupado e insatisfeito. A primeira indignação é meu próprio bolso. Eu tenho 25% do meu salário retido em impostos, todos mês, entre impostos diretos e indiretos e nem mesmo andar seguro na cidade eu posso? Claro, eu já tenho transporte privado, tenho plano de saúde privado (e nem assim funciona), tenho seguro e segurança no prédio onde vivo. Posso dizer que hoje, eu não dependo do governo para nada, ao contrário, o sustento, e a única coisa que restava ele fazer por mim, era me dar segurança entre minha casa e qualquer outro lugar privado que eu for. E ele não faz isso.

Mas à parte a insatisfação pessoal, egoista, mesquinha, vem outra, quando a raiva imediatista passa, e é o senso social. Como minha cidade, e meu povo, o povo do qual eu faço parte, pode começar a se odiar assim? Como nos tornamos uma sociedade com medo permanente entre nós? E aí veio a resposta, primeiro de Daniel Duclos, que eu nunca ouvi falar, até o Cris Dias, este sim, fazer o texto dele sobre o assunto e sobre o texto do Daniel Duclos. E agora a história ganha mais um ponto. (quem conta um conto...).

Para ler o texto original, que é muito melhor que vou escrever à seguir, leia aqui: http://blog.daniduc.net/2009/09/14/da-relacao-direta-entre-ter-de-limpar-seu-banheiro-voce-mesmo-e-poder-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/, para ler o texto do Cris Dias sobre o texto original, leia aqui: http://www.crisdias.com/2013/01/09/palpites-sobre-o-lance-de-limpar-seu-banheiro-abrir-sem-medo-um-mac-book-no-onibus/.

O fato é que Daniel Duclos, que vive na Holanda, faz uma comparação, que não busca colocar a Holanda (logo a Holanda? Tamancos de Madeira? Yodeli?), num pedestal, mas comparar dois sistemas, um que parece estar funcionando (e tem também seus seis milhões de defeitos) e o Brasil, que tem seus seis bilhões de defeitos e, à parte a economia que se arrasta, não está dando certo.

Por que a Holanda está dando certo? A posição de Duclos é que na Holando a diferença entre um salário mínimo e um salário alto é muito pequena. Ele coloca valores: 1500 euros aproximadamente para o mínimo. 4500 euros aproximadamente para o top. Com estes valores de salários mínimos, alguém honestamente se dignaria a limpar os banheiros alheios? Mais que isso, há claro, todo um fator cultural: na Holanda não pega bem dar ordens, mesmo se você for o Marajá de Jaipur e na sua frente estiver um reles porteiro. Mas para não me extender, correndo o risco de fazer uma cópia ipsis literis do texto do Daniel Duclos, o fato é que na Holanda você pode abrir um Macbook no ônibus, como se fosse a coisa mais normal do mundo, ao custo de limpar seu próprio banheiro. A baixa desigualdade social permite isso. Além de uma tremenda carga em educação e cultura que o país tem.

No Brasil, mesmo uma pessoa afundando em dívidas, tem que sobrar algum dinheiro para a empregada, secretaria do lar, assessora, assistente, chame como quiser, mas o fato é que no nosso país é um crime é um suicídio social limpar seu próprio banheiro. E as pessoas se dignam a limpar banheiros para poderem viver. Banheiros dos outros. Enquanto no Brasil o mínimo é de 672 reais, 248 euros aproximadamente, nossos políticos mostram, a cada votação todo 2 de janeiro às 22 horas, quando ninguém está olhando, que o céu não é o bastante para um teto salarial. E isso cria desigualdade social. À parte todo um histórico de baixa educação, coronialismo e falta de cultura. E por isso, abrir um Macbook na sua própria casa já é perigoso.

É fato que não há remédio rápido para curar a violência em São Paulo. Mais policiais e mais policiamento vão impelir criminosos a pensarem e outros e novos crimes. 2012 foi o ano de explodir caixas eletrônicos, lembram? Este ano, com o policiamento ostensivo, os bandidos estão roubando os seguranças. É, os guardas privados. Eles querem os coletes e as armas deles. Como disse nosso presidente Dilma, o Brasil tem que investir em educação, educação tem que ser a obsessão do brasileiro para sairmos da zona do desconforto e, quem sabe, desta zona de insegurança que se instaurou nas pequenas, médias e grandes cidades do país...

Comentários

Anônimo disse…
Tão almejada a zona de conforto e tão desconfortável essa zona toda...

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