Os Viralata - a segunda onda literária
Em 2001 eu participei de uma super onda literária, com grande escritores que se tornavam proeminentes com uma velocidade assustadora. Marçal Aquino e Patrícia Melo saíram da literatura marginal para ter seus filmes, com atores globais. Marcelino Freire ganhou prêmios de uma forma indecorosa, suas obras ganharam os teatros e até mesmo as telonas, se não na forma de longas, como seus companheiros de movimento literário, foi na forma de curtas. Esse curta, inclusive, foi muito premiado, Homo Erectus, que você pode conferir seu texto e o curta neste link: http://www.youtube.com/watch?v=x8Imk7B7s1c.
Dizem que o Wil.I.Am do Black Eye Peas é conhecido como o homem que mais trabalha na indústria do entretenimento norteamericano. Hoje, com clipe dividindo seu prestígio com a Britney Spears, que busca voltar com sua carreira, Wil.I.Am dividi-se entre sua banda, produzir outros artistas, participações especiais, compositor e cinema, como a que fez em Wolverine: Origens. Eu acredito que Marcelino Freire é o Wil.I.Am da literatura brasileira. Envolvido com milhões de projetos, e assim mesmo faz da sua multiplicidade um talento secundário ainda assim diante da forma como escreve, faz peças e é premiado. Se hoje Marcelino Freire tem apenas um Jabuti, é para evitar ser incomodado pelo Ibama! (Jabuti = prêmio anual da literatura brasileira. O prêmio refere-se à obra de 2005, Navios Negreiros).
Mas se tudo tem um começo, um dia tem um fim, e o movimento Geração 90: Manuscritos de Computador, que culminou no manifesto PS:SP, perdeu força diante dos projetos de cada um dos envolvidos, cada qual para seu canto, produzir suas peças, produzir seus livros, produzir seus filmes. Manifestos são ótimos, mas só servem se os artistas manifestantes estão produtivos, de outra forma é saudosismo. Tive ainda o privilégio de compartilhar um mesa com o próprio Marcelino Freire, num lançamento da Vila Madalena. E eu nem sabia com quem falava, suado, cansado de ter ido à pé e num lugar bastante escuro. Foi até engraçado a hora que ele me disse seu nome, e eu quis cavar um buraco no chão e entrar nele, sem saber o que fazer.
Mas o tempo passa e por volta de 2005 eu me distanciei do movimento que também se distanciava de mim. Deixei de me interar de lançamentos, e deixei de comprar todos os livros novos que saíam.
Só que a vida gosta de provar para nós que somos personagens de sua obra, e que não fazemos o que queremos, e sim o que a vida quer. Lendo aqui e ali, cada tanto que eu tinha um tempo livre, encontrei alguns blogs fantásticos de contos e literatura, que fui me envolvendo, descobrindo que os blogueiros se conheciam, que escreviam coisas maravilhosas, escritores como Alex Castro, Luiz Biajoni, Olívia Maia, Donizete, Alexandre Inagaki, Branco Leone e tantos outros. Cada qual com seu gênero e seu estilo, eram todos escritores sim, por que escreviam, mas não tinham na escrita sua profissão principal: Alex Castro que dava aulas de inglês conseguiu uma bolsa para ir a Nova Orleans estudar e dar aulas (lá, de literatura em português), Olivia Maia até hoje, pelo que sei de sua vida reservada, é estudante de letras, não sei em que grau, mas suponho que uma pós, mestrado ou doutorado. Donizete é psicólogo e Branco Leone publicitário. Inagaki, tenho quase certeza, é um blog que atingiu consciência própria e seu auto escreve!
A grande vantagem desta onda de produções era então, uma liberdade absoluta e deliciosa de temas de formas de escreverem, de linguagem e de formatos. Um dos melhores livros desta safra (todos são ótimos) foi Virgínia Berlim, um livro curto ou um conto longo, a obra vinha acompanhada de um CD, com 10 sons que formavam o clima do livro. Fantástico, envolvente, delicioso. De ler e reler, ainda mais num dia frio, e com uma dose de Whisky e muito gelo, para não influenciar na leitura...
Albano Martins formara a editora, que produzia e vendia os livros, editora curiosamente chamada de Os Viralata (sem o plural, assim mesmo, uma referência a um clássico do cinema), e com esta editora, nascia minha segunda onda literária. Lí um dos melhores livros policiais brasileiros que já vi, Operação P2, de Olívia Maia. Me esbaldei com os romances de Meias Vermelhas & Histórias Inteiras, de Donizete, Biajoni trouxe nomes fortes para seus textos, mescla de jornalísticos, romances e policiais, depois do conto-livro que fez com Virgínia Berlim, viria Sexo Anal - uma novela marrom e Buceta - uma novela cor de rosa. Excelentes textos. Albano tinha o estilo mais proza, mais crônicas, e era sem dúvida um dos mais engraçados em suas confissões inventadas de Os melhores textos de Branco Leone e Incompletos.
Cada edição era feita artesanalmente, 100 em 100 cópias, vendidas de forma quase informal, em lançamentos em bares abertos a outrens, e entre uma mesa e outra com pessoas alheias aos livros, discutia-se e se vendiam livros e literatura. Alguns autores chegaram a enumerar, um a um os livros, dando ainda mais exclusividade a estes quitutes de literatura.
Infelizmente, se os membros desta segunda onda (em minha vida, não em uma linha de tempo relevante) ainda continuam escrevendo, não é graças ao movimento que buscaram criar e que participaram. A literatura independente depende demasiado de vendas, que não ocorrem. Brasileiro lê mal, pouco e coisas de mau gosto. Contrariam uma recomendação efusiva e apaixonada do seu melhor amigo, para ler (quando lêem), algo dos 10 mais da Veja, para se manterem socialmente relevantes e o resultado está estampado, espero que para sempre, para nos lembrar de nosso despreparo para literaturas inovadoras e independentes: http://osviralata.com.br/wp/.
Hoje, eu leio e releio cada um destes livros, se não aprecio o papel em sí, ao ponto que fiz uma ode aos livros digitais, posso assegurar que estes livros ao menos, são muito preciosos. Que o diga aqueles que eu cometi o erro estapafúrdio de emprestar, e lamento olhando para a janela fitando o horizonte, numa esperança débil que eles voltem... (Vocês que têm estes livros sabem quem são, aceito devoluções espontâneas!).
Guardei para falar de um autor desta segunda onda, que foi muito importante para mim (e ainda é) chamado Alex Castro, mas num novo texto. Voltem amanhã!
up-date
Para ler minha resenha de Virgínia Berlim, confira aqui: http://lec.blogspot.com.br/2012/02/resenha-virginia-berlim.html
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