Revista PS:SP

O ano de 2001 foi muito importante na minha "formação" literária. Tendo cursado Técnico Mecânico e depois Tecnólogo Mecânico na FATEC, nunca tive mais português do que o mínimo necessário, salvo por uma professora da ETE Albert Einstein, que tinha como missão na Terra, mostrar literatura para os alunos. Ela teve sucesso na sua missão que aliciou a única aluna da sala, que largou o curso no terceiro ano (técnico mecânico eram 4 anos) e foi fazer letras. Todos odiaram ainda mais a tal professora...

Mas no ano de 2001, eu trabalhava na Avenida Paulista, próximo à livraria Martins Fontes, e eu sem querer tropecei, namorando os títulos de Tolkien e RPG's nas vitrines da livraria todo dia, num coquetel e, sem nada melhor para fazer (claro, eu poderia ter ido para a FATEC e me formado no prazo, mas isto não estava incluso em "algo melhor para fazer"), eu entrei e literalmente, esbarrei na literatura. Era o lançamento de um "manifesto de literatura", uma revista chamada PS:SP, quadrada como um disco de vinil, que felizmente voltou à moda e não preciso explicar o que é um vinil (Deus, me sinto com 1000 anos!), que trazia os escritores em voga, com dois ou três contos/crônicas de cada um, e todos fotografados por J. R. Duran, o cara mais fera da fotografia.

Ao todo estão no PS:SP: André Sant'Anna, Bruno Zeni, Cláudio Galperin, Fernando Bonassi, Ivana Arruda Leite, Joca Reiners Terron, Luiz Ruffato, Marçal Aquino, Marcelino Freire, Marcel Mirisola, Nelson de Oliveira, Ronaldo Bressane e o próprio fotógrafo, J. R. Duran.

Acho que voltei à pé aquele dia para casa, mas comprei a dita revista literária. Me apaixonei pelos textos e, como os lançamento na moda eram sempre na Paulista naquela época, eu fui a todos. Passei a ser tão arroz de festa, que eu já sabia pelo nome, os outros arroz de festa que lá estavam.

Nestes lançamentos, eu conheci, conversei e recebi autógrafos dos maiores escritores da atualidade, fui à palestra de Salman Rushdie, que falou sobre seu livro "Versículos Satânicos" (ou Versos Satânicos) e do FATWA que lhe seguiu e lhe segue até hoje, onde um líder Islâmico achou que o livro ofendia sua crença e o fez alvo de terroristas. Fui no lançamento de Marçal Aquino e Beto Brant, sobre o filme O Invasor, e fui na palestra do filme O Matador, de Patrícia Melo, com Murilo Benicio. Foi um período riquíssimo em cultura e conhecimento (inversamente proporcional ao empobrecimento de minhas contas bancárias).

Em algum lugar nestes destes anos, eu também comecei a ir a um grupo de estudo para formados em letras, uma iniciativa espetacular de um grande escritor e professor de letras, Ricardo Myiake, que organizava o encontro na FMU da Vila Mariana, e como minha amiga, a desertora do curso de tecnico mecânico, se formara com este mestre e fora convidada a participar. Ela me convidou também. Por sorte o mestre eu também conheci nestes lançamentos a que íamos. O melhor livro sobre literatura e escrita que já lí, foi recomendação do Mestre Myiake: Ítalo Calvino, Seis propostas para o próximo milênio - lições americanas. Excelente livro.

Se eu tive um curso de formação, com literatura, professores, trabalhos (meus próprios textos), eu fiz e me formei em 2001 até 2006, entre livros, lançamentos, conversas e discussões, regadas à vinho ou não, até que os lançamentos se tornaram mais raros, e finalmente eu deixei de ir à eles, com exceção dos lançamentos de Alex Castro, mas aí já é outra história...

Comentários

Alex Castro disse…
hahhaa, agora fiquei curioso pela outra história! :)
Lívia disse…
Olha eu aí, desertora do curso de mecânica!
O curioso é vc publicar esse texto no mesmo dia que defendi o TCC de especialização em Língua Portuguesa.
Bjs

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