Coisas do amor...

Quando penso no meu iPod Touch, que ganhei de minha esposa, há três anos atrás, eu vejo o quão rápido as coisas envelhecem. Meu iPod, que tras gravado o primeiro SMS que enviei a minha esposa, baseado no filme que eu adoro, "So longo and thanks for all the fish", não envelheceu bem, culpa do próprio aparelho, que arranha só de olhar para ele. Além disso, seu sistema operacional, para sempre no 4.1, limita demasiado os aplicativos que rodam nele. Mas se o aparelho envelheceu mal, o mesmo não posso dizer do menú relacionamento, responsável pela frase no verso do aparelho... Aquele primeiro SMS que mandei para minha esposa...

É uma frase idiota para um primeiro encontro, eu sei, quando eu a releio hoje em dia parece que eu me despedia e não que eu queria ve-la o quanto antes. De certa forma, a frase é usada para isso mesmo, ela é a despedida de todos os golfinhos da Terra, quando eles estão partindo do nosso planeta, cientes da eminente destruição da Terra para dar passagem a um novo atalho na via intergalatica, feita pelos Vorgons, no romance de Douglas Adams, O Guia do Mochileiro das Galaxias.

Mas foi a frase que eu escrevi, e se há algo como a tal expressão "almas gêmeas", é por que minha esposa casou conmigo assim mesmo. Mas eu estava tão encantado pelo filme e pelas obras do autor, e estava tão feliz de achar alguém que também amava ficção científica, e aquele humor sem sentido, que eu não pude pensar uma frase de ficção científica menos clichê que esta: "Vida Longa e Próspera"?, "Para o infinito e além"? Não... Todas muito óbvias e eu tinha que demonstrar que eu apaixonado por Novidades, Entretenimentos, Roteiros e Dramas, ou seja, NERD...

Nossos primeiros encontros, se é que posso chamar assim, foram no parque do Ibirapuera, fomos juntos ver a exposição Star Wars, com peças do figurino da trilogia clássica. Não tinha quase fila e a exposição era também bastante modesta, a loja era quase maior que o espaço de exposições. Apesar de não termos visto um X-Wing em escala 1:1, nos divertimos, comemos comida italiana ali perto. E foi o começo de uma relação muito gostosa. Imersa em cinema, ficção científica, livros, músicas, textos e projetos. Outros encontros incluiriam um roteiro pelas montadoras do ABC, museus, documentários e músicas, este último que ela só foi para me agradar.

Claro, o segundo programa não a agradou muito. Acontece que a pessoa sensível e apaixonada da relação sou eu. Minha esposa é pragmática, cuida do dinheiro na casa e gosta de filmes de ação. Sem saber, ou desconfiando mas ignorando ativamente, fomos ver Mama Mia no cinema. Como rio ao lembrar da cara dela se fechando, conforme as músicas não paravam e continuavam vindo... No final, mesmo ela teve que concordar que foi divertido, e acabamos indo ver a peça no Teatro Abril, quando fizeram a adaptação.

Com exceção de musicais, gostamos das mesmas coisas, quase sempre. E é interessante ver, como já será o quarto ano que passaremos um Valentines Day juntos. Felizes. E se o tempo passa para meu, já velho, iPod Touch, com aquela inscrição agora quase apagada, soterrada de arranhões espontâneos na traseira prateada do aparelho, o sentimento não poderia ser mais forte, mais jovem, mais intenso.

Te amo, minha significante outra. Pra sempre. "So longo, and thanks for all the fish"...

Comentários

Editora Delearte disse…
¡Adios y gracias por todos los peces, Manucito!
Marcos Claudino disse…
Excelente, querido amigo!! Abração.

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