Combo Rangers


Eu sei que dizem (a Bíblia diz) que a mão direita não saiba sobre a caridade que a mão esquerda faça. E eu não quero falar nada disso com a intenção de me gabar, e para evitar rodeios constrangedores, vou direto ao ponto: eu admiro e invejo todos com o talento e a oportunidade de viverem de seus sonhos: Alex Castro, Olivia Maia, Guilherme Di Lascio, Luiz Biajoni, Alexandre Ottoni, Deive Pazos, Ianina Zubowicz, Julio Cesar dos Santos, entre tantos outros. E eu ajudei alguns.

Pessoas com uma veia artística que conseguem materializar, seja como segunda carreira, seja como carreira principal, seus sonhos de produzirem arte num país que só se importa com BigBrothers. Que escrevem onde ninguém lê e fazem música onde as pessoas baixam de graça e chamam de idiotas aqueles que (como eu) compram. E eu compro músicas, livros e revistas numa progressão perigosa para alguém com minhas dívidas e minha saúde (doença) financeira.

Como diz outro ditado, "Quem não sabe fazer, ensina". Embora eu ache depreciativo para os professores, o tom no ditado é outro na verdade: quem não sabe produzir algo em uma área que ama, pode ao menos explicar sua paixão na forma de aulas. Não dou aula de nada disso que eu gosto, tão pouco sou bom naquilo que amo, mas eu contribuo com a arte do Brasil (e internacional, veja só minha esposa!), de uma maneira inventiva, inaugurada por Alex Castro alguns anos atrás e que hoje subitamente é moda: Mecenas.

Mecenas são pessoas que na Idade Média apoiavam ou financiavam artistas, fazendo dinheiro vendendo artes alheias, sendo empresários numa época que a palavra empresário nem existia. Cada artista que tivesse um mecenas, era livre para se dedicar meramente à arte, vendê-la e fezer dinheiro para subsistência era responsabilidade do mecenas. Alex Castro, quando a editora Os Viralata agonizava, promoveu o primeiro mecenato do qual participei: pediu para cada um dos seus leitores comprarem um livro em pré venda, e quando o dinheiro deu para pagar a gráfica, o livro foi impresso. Para incentivar as doações, o valor era livre, mas as maiores doações recebiam a numeração menor do livro, que era numerado, quanto maior fosse a doação. Duzentas edições numeradas foram produzidas. Os doadores ainda podiam figurar na última página, como um obrigado do artista, se quisessem. As doações poderiam ser anônimas, se alguém quisesse seguir o ditado bíblico do nosso primeiro parágrafo.

Depois do processo de mecenato, Alex Castro o adotou para seus outros livros e para seu próprio blog, hoje você pode se tornar patrocinador de alguém que decidiu viver do que escreve, ao invés de um emprego regular. Mas o processo de mecenato evoluiu, e diversos sites de criação de conteúdo patrocinado surgiram.

Kickstarter.com ou catarse.me são sites que você pode criar um projeto, criar recompensas para os doadores e, se o dinheiro alcançar para o projeto, ele acontece. Se não, o dinheiro é devolvido. É onde entra Fabio Yabu, outro escritor que eu admiro demais.

Fabio Yabu, escritor e roteirista, escreveu nos anos de sucesso dos Power Rangers uma série de quadrinhos cômicos/satíricos à série nipo-americana, chamada de Combo Rangers. Cinco crianças que lutavam com alienígenas invasores da Terra. O quadrinho, porém, foi cancelado numa das inúmeras crises de 2000 até hoje e Yabu foi viver de fazer outras coisas. Roterizou "As princesas do mar", animação da TV Cultura. Escreveu "A última princesa do Brasil", um romance biográfico da princesa Isabel, produziu livros para o Jovem Nerd e roteirizou a Graphic Novel: Independência ou Mortos. Mas ele tinha um sonho, voltar à produzir os quadrinhos que ele criou. Eram seus filhos, afinal de contas.

Yabu foi então ao Cartase, e criou um programa de recompensas: ele queria 40 mil reais para produzir uma edição de relançamento dos Combo Rangers. As recompensas iam desde a edição 1, quando pronta, entregue na sua casa, até um combo violente de produtos, com todos os livros que ele já escreveu no pacote. A expectativa era reunir o dinheiro necessário em 45 dias, mas em 15 apenas ele atingiu a meta, e em quarenta e cinco dias, ele reuniu mais de 65 mil reais! O bastante para três edições! E eu, também um apoiador, não posso deixar de ficar mais feliz por ele.

Existem ainda outros programas de mecenas muito interessantes, mas eu recomendo que você conheça estes dois, e quem sabe, crie o seu, apoio outros. Vamos nos ajudar a sonhar, pois um último ditado, cantado por Raul Seixas, diz:  "Sonho que se sonha só, é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade".

Para doar ao Alex Castro: http://alexcastro.com.br/mecenato/
Para conhecer o catarse: http://www.catarse.me
Para comprar um curso de financiamento coletivo: http://www.beved.com.br/classrooms/i-know-kung-fu-aprenda-roteiro-e-criacao-com-fabio-yabu-em-sao-paulo-sao-paulo

Comentários

Editora Delearte disse…
Adorei seu texto! Me fez pensar em um monte coisas que quero fazer...

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