Focos ou fofocos

Comecei janeiro falando de mim como doido. E no final de janeiro, li uma coluna muito engrançadinha, que falava como o cara desenvolveu um doença bastante séria no umbigo, após passar dias e tardes escrevendo para listas de email e blogs. Cada dia que escrevia, seu umbigo crescia, e crescia de novo. Até chegar o dia que tudo que ele via era seu próprio umbigo. Então ele parou de escrever, pois ele não discutia ou aprendia mais, escrevia apenas sobre si, tinha se tornado auto-referente.

Eu, que leio sinais a cada entrelinha, achei que era Deus ou o destino me dando um toque: "Você não é o Jô Soares, nem um poço de saber, se toca!". E eu me toquei. Parei de falar de mim, mas o que aconteceu? Os acessos do blog foram às duas dezenas diárias. E eu me esforcei. Fiz resenhas dos livros que estou lendo, dos que reli recentemente. Falei de ferramentas narrativas, de filmes e teatros. E os acessos numa descendente que parecia o mercado de empregos espanhol.

Então eu fiz, por acaso pelo destino, duas colunas pessoais. Explosões de acessos. Todos ficam felizes e o adsense me deu quase dez dólares pelos acessos. Ou seja, o problema não é que eu seja auto-referente. O problema é que vocês gostam de escrutinar minha vida, né?

Houve um tempo onde eu escrevia contos, numa rede de emails chamada Trils, ou triuls, não lembro. Eu escrevia contos, avaliava outros, tínhamos um jornal sobre os contos da semana. Os bem avaliados. Mal avaliados, ninguém falava nada. Mas os bons eram largamente comentados. Eu me entusiasmei naquele tempo, e escrevi muito, centenas de contos, até as 3, 4 da manhã, e ia para escola, no colegial, as 6. Eram bons tempos. Tão bons, que eu comecei a escrever um blog, comecei a enviar textos não solicitados à revistas e a outros sites, e comecei a colaborar com outros blogs.

De novo me lembrei do tal maluco, com o umbigo inflado... Talvez ele devesse parar de falar de sí e comparar os outros aos seus textos. Ele estava mais auto-referente que o Jô Soares numa entrevista com pseudo-celebridades (no julgamento do Jô Soares, sobre o que é e quem é uma pseudo-celebridade).

Ele parou de escrever de sí, e deixou de comparar outros escritores à si mesmo. E seu umbigo foi curado. Por outro lado, não me lembro que blog foi esse, e temo que o rapaz, que só queria escrever para viver, tenha arrumado outro emprego, quando seus acessos minguaram ao ponto do desânimo. Isso me lembra outra história: Quando Dino da Silva Sauro, o Homer Simpson de uma sitcom americana com dinossauros como protagonistas, assume a direção de uma emissora de TV, ele automaticamente deixa as pessoas tão burras, com seu gosto por programas, que as pessoas esqueciam de respirar.

Desesperado por fazer a coisa certa, foi aconselhado: "se você não entender o que é, então é bom". E todos se tornaram tão inteligentes na cidade, que mais ninguém via TV. Irônico um programa de TV chamar a todos que assistem TV de burros, não é? Talvez por isso a série tenha acabado. Mas seja como for, eu vou continuar me focando em textos de literatura que se mesclem aos meus próprios casos.

Mais causos e mais casos, claro, mas também literatura e algo que eu ache que seja cultura. Se eu não entender o que é, eu compartilho com vocês! O importante é darmos risadas. E que vocês comentem! Onde compro bandagens para o umbigo?

Comentários

Marcos Claudino disse…
Escreva apenas, querido amigo, continue, pra você mesmo, e pra quem quiser... Só não páre, ok? rsrsrs...
Editora Delearte disse…
Concordo com o Marcos; não tem que escrever "para outros". Você escreve. Ponto. E quem quiser se juntar, é bem-vindo...

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