Jamais o inexistente sorriso - Olivia Maia

Jamais o inexistente sorriso é um conto longo, um romance curto. Três dias intensos na vida do delegado Daniel. Formado em direito, delegado de plantão, surpreendido ao final de seu turno, num dia quente de verão paulistano, pela jovem frágil que entra na delegacia sem vê-los, e sem dizer uma só palavra, colapsa na frente dele, do escrivão e de um investigador.

Aquela cena, aquela ação, bagunça a cabeça do jovem delegado. Há seis meses ocupa o posto de delegado de plantão, "quantos bandidos prendi até agora?", ele se pergunta quando encontra a motivação para fazer mais do que a burocracia neste caso. Ele quer arregaçar as mangas. Acompanha a jovem ao hospital, sem nome, sem documentos, sem pistas. As únicas coisas que a jovem balbucia em seus devaneios, já no hospital são: "Ela era uma moça tão bonita..." e "Nada era o que parecia ser, nada era real...".

No curto e intenso texto, vemos a rotina do delegado abalada, suas convicções e sua ânsia por ajudar aquela jovem, tão bonita, tão frágil, coloca sua própria vida em perigo, ao ir à campo junto do investigador, experiente e com mais de 10 anos de casa.

Olivia Maia foi o motor das minhas leituras de janeiro, e o motivo é que ela e o Alex Castro formam os escritores de Os Viralata mais ativos atualmente, e escrever este blog me deu uma nostalgia danada daqueles tempos. Mas este motivo foi o que me motivou a reler Operação P2, continuar lendo-a é mérito exclusivo das qualidades de seus textos. Olivia vive e respira o clima do romance policial perfeito para o Brasil. Nada de equipes especializadas, ou de uma cavalaria formada por semi-modelos como os seriados policiais da TV. As investigações aqui no Brasil levam tempo, as pistas são superficiais e não há um super banco de dados, com as digitais de todos os habitantes do nosso globo.

No princípio, me imaginando no papel de Daniel, e isso é fácil, pois Olivia tem uma predileção por textos em primeira pessoa, eu fico indignado que ele não tenha tirado, ainda na delegacia, as digitais da moça, fotografado seu rosto e rodado em algum software maluco, um sistema de reconhecimento. Até observar que nada disso existe de fato no Brasil. Tão pouco há um sistema integrado de desaparecidos para se pesquisar. Só há a vítima de um crime desconhecido que invadiu a delegacia num final de uma noite quente, e desabou na recepção da mesma, tirando Daniel de sua rotina e da segurança de trás de sua escrivaninha.

Um texto maravilhoso, e muito rápido de ser lido. Impossível desgrudar os olhos do livro até o final do mesmo...

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