Mundar é bom...

Eu prefiro ser, esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

Eu detesto viajar. Não sou capaz de aproveitar uma viagem, por que para mim, viajar significa ficar longe de tudo que eu sei onde está e que não sei, quando, em que momento insano, minha mente terá vontade de remexer com aquilo que deixei para trás. Se não ficou claro de entender, minha mente é como os desejos de uma grávida. Dizem que os desejos insólitos das grávidas vem da mente, tentando buscar nas lembranças conscientes, aquilo que a mente inconsciente sabe que precisa para alimentar o filho.

Uma mulher com súbito desejo de comer sorvete com feijão, pode estar simplesmente querendo compensar a falta de ferro e de açúcares do corpo, manifestados neste desejo raro. Minha mente criativa é igual. Eu não escolho quando quero escrever sobre um assunto ou outro. No meio de um banho, de uma partida de futebol ou admirando uma coleção de tampas de refrigerantes, de súbito, uma relação estranha se faz na minha mente, e sou possuído pelo desejo de escrever sobre algo, em geral, na forma de um largo arco para chegar de onde estava, até onde quero ir. Como esta introdução, por exemplo, onde eu falava de viagem, e agora falo de processos criativos da minha mente insana.

O que quero dizer, é que quando viajo, não sei o que vou querer/precisar consultar, para escrever um texto que me ocorra. Por definição, eu assumo que estarei sem internet aonde quer que eu vá, se for no hemisfério sul do planeta. Logo, a consulta aos meus livros e revistas é a única forma confiável de validar, verificar, uma informação, Claro que não é só isso. Viajar significa escolher, dentre o milhão e meio de semi-dispositivos que tenho funcionais, quais podem me parecer mais adequados.

Para a Argentina, em 2012, por exemplo, levei o laptop Mobo, da Positivo. Ultra-portátil, com boa bateria, mas com apenas 2Gb de memória flash de HD, que mal cabiam o próprio windows XP. Se mostrou uma escolha lógica, pela formato diminuto e pelo pouco peso. Não esperava que fosse também, inútil. Mal dava para ouvir música nele, com caixas baixas de som. Não tinha os softwares que eu desejava, para programar, que é o que tive vontade chegando lá, quando eu esperava originalmente escrever. E quando meu Palm TX deu problema, não tinha como instalar o Palm Desktop naquele pouco espaço, para restaurar meu aparelho. Mau humor garantido.

Mas recentemente isso mudou. Um pouco, mas mudou. Com as viagens que realizei com minha esposa para a praia, foram as primeiras vezes que não me preocupe em não ter o que fazer em algum momento. Ia para a praia, pasmem, sem levar um livro. Só o calção de banho com as chaves de casa amarradas nele. Ficava no mar até não poder mais, quase parecendo um pedaço de bacalhau na salmoura, e voltava para casa, cansado feito criança, e dormia o sono dos justos,

Descobri, nestes dois finais de semana, finalmente, o que é ser zen para viagens. Sei que isso não irá me servir para sempre. Viagens de três dias ou mais, ainda me dão medo e tenho um pequeno kit de emergências, com livros, meu eReader Kobo, que minha esposa me deu, um laptop para escrever, um iPod para ouvir músicas e ver filmes e um modem 3G, para tentar achar internet. Tentar.

Seja como for, estas viagens recentes para a praia me modificaram um pouco, e finalmente, me desapego das toneladas de tralhas que eu costumo viajar levando comigo. Tem sido uma boa mudança.

Comentários

Editora Delearte disse…
As vezes nos enchemos de coisas com a esperança de encher algum vazio...

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