Operação P2 - resenha
Quando pensamos em textos policiais, é difícil pensar em bons romances policiais no Brasil. As imagens dos programas norteamericanos e sua rica literatura, nos induzem, imediatamente, a pensar no delegado numa sala bem noir, olhando através de um vidro com persianas, uma delegacia com movimento médio. Policiais uniformizados exageradamente atenciosos e computadores de última geração, capazes de aplicar zoom infinitos em fotos, e flagrar o criminoso pelo reflexo na janela do avião que passava a 100 quilômetros do crime, fotografado pela vítima no seu último momento...
CSI, Crime Scene Investigation, não fazem bem a um roteiro brasileiro de livros policiais. Nossos policiais tem uma rotina bem diferente da ficção, mais próxima de E24, onde uma viatura pega numa só noite, três, quatro casos diferentes. Um morto, um foragido, alguém com drogas, alguém sem documentos. Um caso de agressão doméstica, uma ameaça de vida. Às vezes impedem um roubo.
Muitos escritores brasileiro acabam optando por fazer suas novelas e suas obras, ou fora do país de vez, ou nos moldes norteamericanos. Tony Bellotto tem em seus romances, a idéia do detetive dos anos 30, 40. Jô Soares empresa Sherlock Holmes para seu livro: Xangô de Backer Street. Parece impossível escrever um bom romance policial, mesmo usando o Brasil de cenário, sem fugir à receita norteamericana. Mas Olivia Mais (é sem acento), o faz com maestria.
Operação P2, um livro ambientado no nosso tempo, seja ele quando for, consegue envolver um jovem em uma investigação motivada pela curiosidade, um policial e a ditadura militar, numa história que prende o leitor e o mantém em suspense até a última página. Um livro maravilhoso, que flutua entre a ditadura e o nosso tempo, que viaja entre os núcleos de personagens, de forma magistral. Olivia rompe paradoxos e barreiras com sua publicação, inicialmente, pela editora já extinta, Os Viralata, e atualmente, por editoração própria.
O mais magistral da obra, contudo, é conseguir narrar em primeira pessoa, duas personagens diferentes. Na edição de Os Viralata, cuidadoso como sempre em editoração, Albano teve o cuidado de trocar a fonte, sutilmente, quando passava de um personagem ao outro. Sem o livro se perdem em explicações, sem outro narrador, além da visão limitada de cada personagem, e com muitos espaços para o leitor completar, sem estragar, em nada, a compreensão da trama, da obra. É perigoso dizer qualquer coisa mais, sem estragar a obra. Fiquem com o que o Albano Martins ousou adiantar ao leitor ansioso:
Para Leonardo, o passado é um roteiro na memória e uma pilha de provas de história a corrigir. Mas isso está prestes a mudar - e em velocidade vertiginosa. Um jornalista e professor universitário é assinado ao pesquisar sobre desvios de verbas no período da ditadura militar, queima de arquivo? Como herança maldita para Rafael, seu aluno (e aprendiz de Philip Marlowe), três nomes e uma instrução: "Procurar o investigador Mateus, no DEIC". As descobertas da polícia despertam na mídia a curiosidade por uma suposta organização de guerrilha que funcionaria até hoje. Operação P-2? Outras mortes sucedem e Leonardo é pressionado em direção ao inevitável: um confronto com uma identidade que já não pensava ter, há quase vinte anos.
No lançamento onde fui, e tive o privilégio de adquirir minha obra, autografada, claro, eu já imaginava que a obra era boa, Albano Martins é exigente com aquilo que levava seu mascote, o Totó, na lombada, mas se eu soubesse que a obra seria uma espiral de ação, do início ao fim, teria poupado a autora da minha piada sem graça: "Posso ler Operação P-2, mesmo sem ter lido a P-1?˜...
Piadas ruins me assombram à noite.
Para conhecer a autora e seu blog (e ler grátis um monte de coisas bacanas): http://oliviamaia.net
Aproveite que está por lá e compre seus livros. São baratinhos e cada um, um tesouro...
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