Simpatias

Nunca fui uma pessoa paciente. Desde muito cedo, contam meus pais, que não andava, eu corria. Fazia pequenas corridas, caia e chorava. Também deixei o leite muito cedo, e minha mãe, preocupada com o que me dar de comer, consultou o médico. De jeito algum eu aceitava leite. O médico sugeriu: tenta colocar um pouco de café junto. Logo, eu tomava mais café que leite, e até hoje, 33 anos mais tarde, ainda prefiro o café ao leite (a algo eu tinha que ser fiel).

Mas talvez tenha sido o café na minha infância que tenha me modificado, talvez seja meu gênio indomável mesmo, mas eu nunca consegui ser paciente para nada, e como consequência, minha capacidade de aprendizado era afetada. Eu tinha pressa em fazer aquilo que as pessoas faziam naturalmente. Desespero. Fosse meu primeiro caminhar, fossem aulas de capoeira, fosse falar, eu era um desastre.

Uma das histórias que mais impressiona meus conhecidos, e que sem dúvida era a favorita dos meus pais para me desmoralizar diante das namoradinhas, era da simpatia que minha mãe buscou para me fazer falar. Ao que dizem, eu não falava até os quatro anos de idade. O que pode surpreender a todos, já que hoje eu falo pelo cotovelos, e quando estou calado, estou falando pelo blog. Mas o fato não é que eu fosse mudo, era que eu tinha um idioma só meu.

Na minha perpétua ânsia por fazer as coisas, que evidentemente já vem de berço, eu não falava uma palavra por vez, eu falava todas. Foi um problemão na minha vida por muito tempo, pois me lembro de ter feito fonoaudiologia por anos, lá em Santana. foi lá que pela primeira vez soube que podíamos ser roubados, pois saindo de uma consulta, o vidro do carro dos meus pais estava quebrado. Nunca me iterei se roubaram algo, eu era muito criança. Lá também alagava nas chuvas, como é qualquer região de São Paulo, até a ladeira da Consolação deve alagar hoje em dia, já que tudo só piora. Mas eu tergiverso.

O fato, é que até os meus quatro anos, eu não falava. E minha mãe, já preocupada por seu primogênito, e com um segundo filho, dois anos mais novo, já ensaiando as primeiras palavras bem pronunciadas, ela passou da ciência à fé. Orações, benzedeiras, água benta. Nada. Eu dizia tudo e nada, ao mesmo tempo.

Foi quando minha mãe ouviu falar de uma simpatia, de uma mulher, há apenas 3 quadras de casa, que fazia umas simpatias, e uma delas era restaurar a fala. Segundo dizem, você pegar uma criança que não fala, ou que não fala coisa com coisa, colocar um pintinho (o filho da galinha, seus mentes poluídas) na boca da criança, e ele piar, a criança irá falar bem ao longo da vida.

Honestamente, eu era criança demais para me lembrar do evento em si e só tenho os depoimentos, sempre entre muitos risos dos meus pais, para me ater se tal ato realmente ocorreu, mas, numa última revisão e com base no quanto eu falo hoje, o dito bichinho não piou, cantou o hino nacional para mim...


Comentários

odetecampos disse…
...ando devagar porque já tive pressa...

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