Trabalhar no que se ama...


Como já falei aqui, eu escrevo de forma antecipada meus textos. Estou uma semana adiantado. Há outros textos, para outras datas festivas, que já estão prontos também, mas no geral, é uma semana à frente que eu tenho. E isso me dá possibilidades, tenho feito pequenas séries de textos, minha infância, minha vida na literatura, praias, vícios. Eu aproveito um tema que normalmente eu abordaria em dois almoços frente e verso, e transformo em 3, 4 crônicas mais aceitáveis.

No texto que você leu ontem, eu abordei como matamos nossa vida, em busca de reconhecimento. Como apelamos para os vícios, para nos dar o empuxo para um dia mais duro, uma atividade menos aprazível. Eu já fiz isso, e também conheço diversas pessoas que o fazem ou fizeram. Não conheço ninguém que tenha voltado a fazer, depois de conseguir sair desta espiral: mais dívidas -> trabalhar mais -> mais compensações pela vida não vivida -> mais dívidas -> trabalhar mais.

Mas quero dizer que eu já fiz, e não faço mais. Não mais. Eu ainda trabalho duro. Já fui trabalhar de sábados. Já fiquei depois do horário. Já fiz trabalhos em casa e levei tarefas para fazer nos feriados. Principalmente de novembro passado, em 2012, que mal aproveitei meu feriado de 15 à 20 de novembro. Mas há uma diferença entre trabalhar duro e trabalhar duro. É a pressão auto-imposta.

Sou casado com uma esposa maravilhosa que me fez colocar a minha vida em perspectiva. Uma vez, ela me disse: "não quero um marido de finais de semana, que chega morto em casa todo dia". Eu, na época do meu casamento, entrava antes das 8 da manhã e saía depois das 22 horas e se tinha alguma diferença daquele "eu" de antes, para o "eu" de hoje, é que hoje eu vendo ainda mais. Eu não tinha visão clara de que trabalhar muito não é, necessariamente, trabalhar mais. Trabalhar melhor. É quase o oposto. Há, claro, as exceções, os períodos mais turbulentos. Mas se o processo vira uma rotina, algo está muito errado.

Descobri que sou bom, sem falsa modéstia, no meu mercado de trabalho. Trabalho com os mesmos produtos há 10 anos. Fui quase um auto-didata, vendendo um produto estrangeiro, com poucos treinamentos no país, que em geral, pouco acrescentavam à minha rotina. Com o tempo, aprendi a aprender sobre meu mercado: lia revistas especializadas. Compartilhava o que aprendia na forma de artigos. Fiz palestras sobre os produtos que eu vendia. E discutia, e discuto até hoje, muito com o pessoal da área técnica, que sabem muito mais do que eu, sobre aquilo que eu vendo.

Estas conversas, com os engenheiros de aplicação, com os clientes, com usuários que são ainda melhores que os desenvolvedores, eu aprendo um pouco mais, sempre. E guardo com carinho aquela informação, não porque meu emprego depende dela, mas porque eu realmente gosto dela. Aprender sobre o software que vendo é, para mim, como é discutir carros para os amantes. Saber os motores, os acessórios, as curiosidades de cada veículo entre os amantes de carros, é para mim saber as extenções compatíveis, os segredinhos de cada versão e muito mais.

Não é necessário perder a saúde para aprender sobre aquilo que você trabalha, no fundo, no fundo, é como dizia minha bisavó materna: trabalhes naquilo que ames, e nunca mais trabalharás na vida.

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