Resenha: Liberal Libertário Libertino, Alex Castro
Alex Castro ([2]http://www.interney.net/blogs/lll/) uma vez publicou em seu blog sua rotina em Nova Orleans, onde é professor de literatura latina (espanhol e português), realiza seu mestrado em literatura na sua tese sobre a literatura feita na era escravista e o constante trabalho de escritor e artista independente, para seu blog e para seus livros e romances, e eu desde então não consigo pensar em nada além disso. Sua excepcional rotina de despertar, tomar o café lendo jornal, dar suas aulas, ler o livros densos de literatura e pela tarde produzir a SUA literatura me apaixonou. É linda, é acadêmica e é livre.
Milhares de pessoas têm rotinas e horários que podem dar inveja a tantas pessoas, mas a do Alex Castro
é especial, por que aquilo que ele produz desta rotina é algo que eu admiro muito, a sua literatura. Seus textos sabem conversar com o leitor, sejam ficções, sejam confissões, seu senso de humor sutil, às vezes sarcástico, permeia seus textos, e sua produção é linda. Mesmo quando vai tudo contra o que você acredita, você ainda gosta do que leu. Os argumentos são o forte do autor, sem dúvida, mas o carisma é ainda mais pungente.
O livro Liberal Libertário Libertino é assim, uma compilação de seus textos do blog homônimo, com eventos que antecedem sua viagem aos Estados Unidos, textos presentes desta sua nova vida e rotina e sua experiência única como fugitivo do furacão Katrina. O autor achou por bem, nesta coletânea toda de alguns anos de posts do blog, agrupá-los sob temas, Crônicas, Vida de Ex-Rico, Homens e Mulheres, Eu, o Oliver e a Katrina e Antes de Ir Embora. A junção ao meu ver, foi perfeita. Os textos de crônicas apresentam o
autor em seu cotidiano, em Vida de Ex-Rico, mais que um diário de um novo pobre, o livro é uma aula de superação, volta por cima, aceitação e avaliação de valores pessoais. Sem mencionar que neste capítulo você se apaixona pelo autor.
O capítulo de Homens e Mulheres é engraçado. Muitas situações que são discutidas na sociedade, uma avaliação séria dos papéis do homem e da mulher na sociedade moderna (que parece ainda não ter tido tempo de pensar no assunto) e algumas avaliações romanticas, c0mo em ”[3]O miojo não comido”, o pobre jovem casal que, numa fuga romântica para a serra, acabou morto, antes mesmo de ter tempo de consumir o
mais rápido dos seus pratos, o miojo, o macarrão instantâneo. O autor nos faz ver o amor e o desejo que pode ter feito um casal jovem fugir desta forma, para se encontrar, e quão triste não deve ser este amor não
consumado, por alguma desgraça que foi, assim tão rápida, que nem um prato juntos desfrutaram.
O relato presente do êxtase da fuga do furacão Katrina, a separação em meio à confusão do autor e
seu fiel companheiro e todas as penúrias que passaram são lindas, são emocionantes, mas destoam do livro.
Afinal, ele publicou em sua primeira edição, como foram feitos, de forma interrompida, quando dava, como
podia, deixando sempre uma sensação de que cada parágrafo podia ser o último a ser escrito sobre o tema.
Neste capítulo falta continuidade, mas isto também é emocionante no texto. Já pensaram o que foi para
o autor se separar de seu animal, com a roupa do corpo, fugindo para casa de amigos, parentes, estranhos,
desconhecidos, dormindo e comendo de favor, com seus bens deixados para trás, e ainda assim, apesar de
tudo isso, usar toda a internet possível que foi encontrando, para ir narrando sua fuga? Não imagino quem
mais poderia ter feito (ou fez! Ele não fugiu sozinho da cidade) um relato em tempo real como o livro deixa
registrado.
Por fim, a mensagem presente em Antes de Ir Embora, uma mensagem pessoal aos leitores, de quem
provou ao longo do livro ter acumulado conhecimento para isso, é linda, mas se quiser ler, terá que comprar
o livro, afinal, literatura independente tem seu preço, e o autor não ganhou tubos de adiantamentos para
produzir o livro, ao contrário, colocou a mão no bolso para fazê-lo e, felizmente, o livro chega a uma segunda edição.
Falando da produção, o livro dá os sinais de seu baixo custo para produzir, a encadernação se consome na
leitura, orelhas surgem mesmo no manuseio mais cuidadoso e, até mesmo um atrito do livro com os objetos
da mochila, fizeram a capa perder a cor. Neste aspecto a segunda edição ganha um valor ainda maior em
relação à primeira, com uma qualidade gráfica muito superior à sua encarnação antecessora.
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