Resenha: Como fazer amigos e influenciar pessoas

Por definição eu sou contra livros de auto-ajuda, audiobooks e outras formas que sempre considerei caça-níquéis, livros lançados à revelia, se um em cada 10 der dinheiro, bom para a editora, paga o custo dos outros 9, quando os 10 são lançados em pequenos lotes e num valor inicialmente mais elevado. Então, um grande amigo, Jefferson Gobetti, me presenteou com uma cópia do audiobook Fazer amigos & Influenciar Pessoas e eu fui obrigado a engolir todos meus preconceitos sobre estas formas de comunicação, primeiramente por que o formato do audiobook me permitiu ler com uma atenção redobrada, do que pensei ser possível. Nos meus trajetos de metrô e trem, eu venho ouvindo estes audiobooks ao mesmo tempo que mantenho um bloco em mãos, um pitilé da série MacManíacos, onde anoto os pontos chaves e gravo à ferro e fogo em minha mente.

Segundo, além do formato que me permitiu ouvir e re-ouvir o livro nos últimos dias, o conteúdo deste exemplar particularmente é excelente. Primeiro por sua linguagem mais antiga, mas conservadora, de uma forma que eu sempre fui apaixonado, e segundo, pelas lições tão óbvias, que ficavam por vezes completamente esquecidas em nossa mente. Formas de tratar aos outros, como queremos ser tratados, ouvir como queremos ser ouvidos, nos interessarmos verdadeiramente pelos outros, não só numa relação diplomática de dois países à beira de uma guerra, mas entre nós e nosso cliente, fornecedor, amigos, companheiros, filhos, família. Quantas e quantas vezes não esquecemos o polimento, o interesse verdadeiro e a paixão pelo outro, em troca da correria e de um interesse genuíno pelo ”eu”! A palavra mais pronunciada na internet, ”eu, I, yo, Ich...”. Como vender ou fazer amigos, ou tratar sua família, quando tudo que queremos é falar de nós?

O livro serviu para me abrir os olhos da forma como vinha tratando meus amigos e minha família,
meus clientes e os fornecedores da empresa (que como toda cadeia de fornecimento, não se resume apenas
àqueles fora da companhia, mas a toda a cadeia inter e intra empresarial, o departamento financeiro que é
o meu fornecedor de notas fiscais ao cliente, o departamento técnico que é meu fornecedor do serviço que
vendi, o departamento de manufatura que me pede ajuda e eu viro seu cliente ou seu fornecedor.

Sempre fui apaixonado pela linguagem mais rebuscada e elevada, sempre acreditei, egoistamente,
que isto me traria distinção sobre as pessoas, e a verdade é que sempre me trouxe mesmo esta tal distinção,
mas mais do que isso, também eleva o ouvinte um tratamento menos coloquial e mais formal.

Quando iniciei meus trabalhos como estagiário de uma empresa de pesquisa de mercado, ví que era
praxe mandar um e-mail à companhia inteira com uma breve apresentação, e como companhia inteira significava do diretor presidente ao entrevistador de campo, eu decidi ser breve e formal, terminei minha
mensagem com um ”cordialmente” que sempre foi minha assinatura. Todos se divertiram e comentaram
minha mensagem ”de velho”, como diziam, se divertiam de ver meu e-mail formal para uma apresentação
informal, mas a seqüência deste evento foi uma valorização do meu trabalho já nas primeiras semanas.

Isto veio desde sempre, quando eu tinha entre 10 e 12 anos, eu acho, quebrei um dos meus dentes
dianteiros, definitivos, obviamente, e minha preocupada mãe me levou ao dentista. Ela, a dentista, me
perguntou como havia conseguido quebrar aquele dente e eu falei: ah, foi simples, eu mergulhei na piscina
e quando estava emergindo, calculei mal e bati o rosto na borda. A dentista ficou perplexa com meu
”emergindo”, fruto de um seriado de TV com um submarino e sua tripulação como personagens centrais.

Hoje eu observo tristemente, com apenas 29 anos, como a geração mais nova, a tal geração Y, Z, whatever, parece perder esta modesta demonstração de respeito ao desconhecido. Casos como um vendedor chama alguém mais velho por ”tio, tia”, o excesso de gírias trazidas para se obter respeito na turma da escola, para o mundo profissional, e uma imbecilização da linguagem.

É cada vez mais triste ver como muitas vezes, a linha de frente de um atendimento das empresas, justamente por serem os salários mais baixos, recepção, telefonistas, atendimento balcão, também têm sido as que mais sofrem com funcionários que se comunicam mal, tratam as outras pessoas como coleguinhas das vilas onde cresceram, ”mano”, ”tio”, ”seu...”. Este último então chega a ser alarmante, tratar alguém por ”seu” parece passar uma imagem ao mesmo tempo mais íntima que o senhor e menos íntima que ”você”, mas na verdade apenas te diminui.

Que terá acontecido com os bons tempos ancestrais, onde as pessoas numa frase cortês, podiam exprimir
contentamento igualmente ao descontentamento. Quando as pessoas faziam malabarismos verbais para te levarem a saber exatamente o que queria que você soubesse?

Um caso citado no livro ”Fazer amigos e influenciar pessoas” é de um advogado de paz que queria ser enviado à Europa para negociar o acordo de paz entre as nações europeias, mas outro foi o escolhido, e este mesmo outro deveria comunicar ao tal advogado que ele não poderia ir, mesmo com todo seu entusiasmo e voluntariado.
- O Presidente não quer chamar muita atenção para nossa tentativa de paz, e ele me escolheu por julgar que a sua ida, alguém tão importante e precioso, levantaria questões demais sobre nossa influência.
Que forma brilhante, não? Nesta simples frase, seu autor disse: ”você é importante demais para ir secretamente, deixe que eu, que não chamo a atenção, vá primeiro”. Que cavalheirismo de quem a pronunciou, e que mente afiada tinha quem a ouviu, para entender o elogia gritado nas entrelinhas.

Penso seriamente como seria importante fazer um curso para estas pessoas mais simples tratarem melhor clientes das companhias, mas isto não resolveria todos os problemas do mundo, às vezes, muitas vezes, na alto esfera das empresas também se escondem pessoas importantes demais para tratar os outros bem. Mas esta já seria uma mentalidade mais difícil de se alterar...

Deste livro ainda, gostaria de salientar a biografia do autor Dale Carnegie, que é por si só, uma lição de vida e um artigo de grande motivação e moral para quem o escuta, como a vida de milhares de outros Dale Carnegie’s: Samuel Klein, Sr. Saraiva do Habib’s e tantos sonhadores, com incrível tato com clientes e mentalidade para negócios...

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