Resenha: Verónika Decide Morrer, o Filme

• Direção: Emily Young
• Roteiro: Paulo Coelho (livro), Larry Gross (roteiro), Roberta Hanley (roteiro)
• Gênero: Drama
• Origem: Estados Unidos
• Duração: 103 minutos
• Tipo: Longa-metragem

Acho que para muitos não será surpresa me lerem dizendo que o filme ”Verónika Decide Morrer” foi uma
decepção, mas será pelos motivos errados. O filme não apenas não faz justiça ao livro como na verdade sobra muito pouco de sua história original, parecendo que o filme foi apenas muito levemente baseado na história original.

Um observador menos interessado poderia dizer que isso é apenas uma sensação decorrente da mudança de cenário: a obra impressa se passa na Eslovênia e a obra cinematográfica ocorre em Nova York. Há também as mudanças nos nomes, decorrentes desta mudança, mas a verdade é que estas mudanças não pararam por aí. Não apenas a experiente Zedka deu lugar a uma vazia e inexpressiva Claire, ou o Dr. Igor que se torna o apático Dr. Blake, mas tudo que dava liga a história, a visão da Verônica, foi alterada.

Mais que isso, para mim o Dr. Igor, no livro, foi o típico vilão de Danm Brawn, com a virada de imagem
no final, enquanto o Dr. Blake foi um mero passageiro no coletivo do filme.

Enquanto o livro intercala momentos do narrador onisciente com a visão em primeira e terceira pessoa
da própria Verônica, o filme nos joga como uma mera audiência das ações da protagonista. No livro, o
narrador nos revela o passado de cada um dos personagens que interagem com Verónika, no momento exato que se faz necessário, enquanto no filme pouco é revelado, e na forma de uma fofoca entre os internos ou um diálogo que soa falso e deslocado, como na abertura, quando Claire conta um resumo da história do reino e do feiticeiro que envenena o poço dos cidadãos.

Outros pontos, como a graduada redescoberta do amor pela vida, no livro, no filme ocorre de maneira quase espontânea, da metade para o final. Sem os diálogos entre os internos, que revelam o que é a loucura e um hospício, fora do conceito estereotipado. Mas de tudo que não faz sentido na adaptação para as telonas, é o uso do TEC (Tratamento Eletro-Convulsivo) em Nova York, quando Vilette era europeu, esloveno, isso ainda era aceitável. Mas nos dias de hoje, e na América do Norte, não fez o menor sentido.

Também senti falta de uma maior participação do mestre Sufi, da interação entre ele, Mari e Verônica
e do próprio Paulo Coelho, que passei o filme esperando-o por uma ponta qualquer. Sem mencionar a troca
da ”carta de suicídio”, necessária, mas que perdeu muito dos significados ocultos presentes no livro. No livro, a carta é para uma revista de jogos eletrônicos, que o jornalista inicia perguntando ”Onde fica a Eslovênia”, de forma jocosa e provoca a reação de raiva da Verônica. A carta, que quer declarar onde fica seu país à editora é também uma meditação entre ela querendo dizer ao mundo, que ela existe. Fazer descobrirem seu país é uma busca pela descoberta.

De forma geral, a diretora Emily Young, ao meu ver, buscou fazer da adaptação do livro para as telas um filme com ares europeus, com muitas paisagens, closes pouco usuais e uma história que transcorre meramente, sem maiores explicações ou flash-backs, foi uma busca por fazer os assim chamados ”filmes cabeças”. O tom confortavelmente leve e sereno da semana consciente em Vilette pela Verónika do livro, foi substituído por um ar sorumbático que predomina pelo filme todo, até mesmo as piadas durante a fuga de Vilette foram extintas, entre ela e outro interno, outro interno esse, cuja história foi totalmente suplantada, enterrada, esquecida, de forma triste e miserável).

Sarah Michelle Gellar não está ruim no papel de Verónika, apenas teria sido melhor aproveitada, se ela fizesse a mesma personagem do livro, não esta coisa artificial e rasa que inventaram para o cinema. Uma pena que uma das raras adaptações ao cinema de um livro brasileiro nos Estados Unidos, tenha sido tão mal
aproveitada.

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