Overthinking: Divagações sobre ficção cientifica

Assisti recentemente a dois filmes que sempre fascinaram, não só a mim, mas a meus pais, duas franquias históricas: 007 - Cassino Royale e Missão Impossível 3 e algo que une os dois filmes é a forma "pé no chão", com que suas histórias foram construidas.


Sem entrar no mérito da questão dos vilões, que de doidos megalomaníacos que queria conquistar o mundo, viravam chefões de cartéis e do mercado negro de armas/diamantes/petróleo e até, exploração da bolsa de valores. Acredito que pelos menos estes vilões evoluíram como forma de atender a anceios de um público mais maduro, menos ingênuo do que eram nossos pais, tantos nossos aqui da américa latina, cegos pelas ditaduras militares, que julgavam que o mundo, de fato, se dividia entre bons e maus e forma simplista, como também enxergavam nas evoluções tecnológicas coisas bizarras e impossíveis, e de tão impossíveis, adequadas para os filmes. Hoje, as pessoas querem que haja ordem cronológica na ação, que os vilões sejam, de preferência, tão vilões deles expectadores, quando do herói: terroristas, oriente médio e subnutridos de países subdesenvolvidos!

Mas além destes aspectos sociais, o que eu quero mesmo falar, são os aspectos tecnológicos: no passado nos deslumbrávamos com as tecnologias usadas nos filmes: mochilas voadoras, relógios com raio laser  computadores portáteis e anéis "de brucutu" que eram na verdade mini câmeras fotográficas. A tecnologia era muito mais mágica que real naquele tempo. Lembro de um episódio, de 007 onde o Sean Connery vira o rádio de seu Alstom Martin e o transforma num radar com GPS! Meu Deus, imaginem radar num automóvel?! Mágica!


Nos filmes recentes da franquia, a tecnologia por outro lado, a cada filme, fica mais natural e menos fantástica. No último 007, o Cassino Royale, o herói passa o filme todinho com tecnologias possíveis e existentes, com alguns exageros, mas aqueles Sony-Ericsson todos fazem realmente as peripécias que o herói usa: comunicador, internet, rastreador por GPS, tudo na real. No último Missão Impossível então, cada uma das três missões de resgate foi mais simples que a anterior. Numa época de milhares de recursos à disposição, é na simplicidade e na engenhosidade que os roteiristas buscam inspiração, uma vez que nem mesmo eles sabem mais, quando a tecnologia existe ou é impossível e eles podem soar ridículos aos olhos da sociedade.


Como definiu muito bem meu amigo, que substituiu o rádio de seu carro, que foi roubado, pelo seu W810i que vem com caixinhas de som: "O que era mirabolante naquele tempo, já está disponível nos celulares mais pé de boi de hoje". E assim sofre nossa ficção, que se não for com algum humor, como "O guia do mochileiro das Galaxias", a tecnologia futurista está cada vez mais difícil de ser adivinhada  pois sempre descobrimos que ela já existia ontem, aquela que escrevemos para a ficção de amanhã.



Texto original de 5 de maio de 2006 


Num segundo tema:



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