Noite na Taverna, Álvares de Azevedo


Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores! 
José Bonifácio
— Silêncio! moços!! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?? 
(início da obra)

Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, tornou-se uma espécie de ícone de uma geração transgressora. Seu texto pequeno, dividido em sete intensos e curtos capítulos, que misturam satanismo, antropofagia, incesto, necrofilia, violência e morte. Não sem motivo se tornou um imã para todos os revoltados e rebeldes. Tenho um conhecido que só procurou o livro ao saber que o mais bêbado e arruaceiro da turma tinha esse livro como seu exemplar de cabeceira, e este meu amigo, um verdadeiro intelectual, nunca tinha o tinha lido na vida.


Álvares de Azevedo teve uma vida breve, muito inspirado pela literatura européia, a literatura fantástica de Lord Byron, Goethe, Françóis-René de Chateaubriand e Alfred de Musset. E ele próprio era um dínamo da literatura, na habilidade da escrita e de línguas. Aos dez anos já falava inglês, francês e latim. Infelizmente sua vida foi abreviada pela tuberculose e por uma queda mal vinda a cavalo. Ele viveu exatamente de 1838 a 1858, falecendo no ano exato que "mi Buenos Aires querido" recebia seu café europeu que existe até hoje, o Café Tortoni, onde outros escritores fabulosos se reuniam para um café, como Borges, Llosa e o próprio Albert Einstein já foi cliente lá, mas eu tergiverso...

Seu livro, o que vemos registrado ao longo dos sete contos, é ambientado numa taverna qualquer, um lugar como Hotel Califórnia (a música do Eagles), onde criadores e criaturas podem se encontrar, e a noite parece eterna lá fora, numa longa jornada de histórias e vinhos, discutindo infâmias e loucuras, numa linguagem vezes mais rica que qualquer político prolixo dos dias de hoje. Solfiere, Bertran e outros nomes nos remetem a lugares no Brasil, bem como suas histórias que narram por vezes ao redor das capitais do mundo, fazendo da taverna atemporal e sem âncora sobre pátria alguma. 

E não faltam vinhos, fumos, violências, referências às mulheres, vivas e mortas, e referências aos grandes escritores europeus, já citados. Por alguns momentos, contudo, há frases e afirmações que soam falsas, forçadas, artificiais na narrativa, mas se há alguma culpa nisso, a única culpa é a própria juventude do autor, que mal completava 19 anos quando terminou sua obra, e flutuava num mundo intelectual que ele ainda não dominava. 


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