Um conto de super herói: Batente


Luiz Henrique da Purificação era uma pessoa comum. Aos 26 anos era magrelo, alto, tagarela e com tendências ‘nerds’. Odiava quando mexiam com ele, mais ainda: odiava sentir-se tão impotente diante de tantas coisas. Entre outras, quando via ‘nerds’ como ele sempre apanharem de valentões, cumprirem suspensão junto com os seus algozes e ainda apanharem do pai por se deixarem bater (e ai dele se tentasse se defender justo da surra do pai).

Tirando isso, tudo corria bem ao Luiz Henrique, ou Henry, como era chamado pelos pais (visto que amigos que o chamassem assim não existiam). Henry tinha um bom emprego, era bem visto pelo patrão (trabalhadores excelentes, sem potenciais políticos, nunca se tornam chefes!), tinha sua
graninha, um carro popular e pensava na aquisição de um financiamento de seu próprio apartamento. Ia até prestar concurso para o Banco do Brasil, para arrumar um emprego de maior estabilidade.

Foi no dia do concurso que aconteceu. Ele levantou-se com mais pressa que o normal e acabou batendo a cabeça no teto. Tonto e sem entender cambaleou até o chuveiro onde praguejaria contra o próprio pai por ter baixado a altura da ducha, que ele sempre reclamou ser muito alta. Até ai ele não percebeu nada ainda, foi só diante do espelho, quando ia matar os três pelos do rosto que ele apelidou de barba, que ele se viu: estava imenso! Era um novo homem... Só se podia dizer que era ele no espelho pela semelhança de semblantes.

Desceu atabalhoado os pequenos degraus da escada atrás de sua mãe, sem perceber como a toalha ficara pequena para seu corpanzil. A mãe, após o choque do homenzarrão invadindo-lhe a cozinha, virou um misto de orgulho materno e terror, algo misterioso e indescritível, mas todos que têm mãe sabem do que se trata...

Ele ainda iria descobrir a partir daquele momento outras incríveis mudanças no corpo. Durante o concurso para o Banco do Brasil, descobriu que ficou mais forte na mesma proporção que bem, deixou de ser inteligente, e desejou que tivesse estudado mais no passado (para ser mais forte ainda hoje, claro!), mas de tudo que descobriu o mais impressionante era seu dom: a invulnerabilidade.

Quando foi assaltado voltando para casa surpreendeu-se da bala do bandido não lhe penetrar no corpo. Ao chegar em casa e lamentar ter ido mal na prova, lembrou-se do que ocorreu no caminho. Tentou de tudo. Estragou duas facas tentando furar a própria mão, colocou os dedos na tomada e nada do choque lhe incomodar. O teste derradeiro foi saltar do telhado e cair, três  pavimentos depois, intacto.

Apesar de saber não ser mais o gênio que já fora, com um pouco de força e invulnerabilidade, Henry decidiu que iria se tornar um super-herói. Recusou o colante azul e vermelho ofertado pelos pais, mas acabou aceitando usar uma calça de lycra, a contra gosto, por ela não rasgar fácil, camiseta, coturno e uma jaqueta, todas as peças pretas, de modo a lembrar um cruzamento de motoqueiro com dançarino de balé.

Hoje ele usa o codinome de Batente nas ruas. O nome deriva da sua forma peculiar de combater o crime. Do alto dos seus dois metros e trinta de altura, e cerca de 120 quilos, mais de uma vez salvou vidas unicamente pela invulnerabilidade do próprio corpo. Chocando-se contra os vilões, armas, inimigos, carros em fuga, ônibus e ficando no caminho de portas fechando. 

Uma vez notou no metrô que uma criança caíra nos trilhos bem no momento que o metrô se aproximava. Ele sabia ser fraco para parar o trem mas pensou “E o trem? Será forte o bastante para me vencer?” e jogou o próprio corpo entre os dormentes de forma a criar um batente entre o menino e o trem do metrô, semelhante àqueles bonecos de areia que impedem as portas de baterem.

Batente hoje faz inglês, na esperança de encontrar um destes heróis americanos que ele viu na tv e cansou de ler em quadrinhos, e também procura descobrir de onde vem seu dom e por que surgiu tão de repente. A sua mãe, Lúcia, fala de benção, o seu pai Edivaldo diz que ele apenas puxou SEU lado da família, mas Henry crê mesmo ser fruto de uma experiência extraterrestre... 

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