Capítulo 10: Derleth

Antony Helmans era um contador, a profissão mais chata do mundo, claro. Um pequeno viés de melhora é quando se é contador como profissão própria, contador terceiro que pode roubar e esfolar os próprios clientes, juntos do governo, que esfola a raça de trabalhadores autônomos, e o contador é seu álibi. Mas quando se é contador como profissão, numa multinacional qualquer, sua profissão se resume a contar números e fazer fechamentos para uma empresa, e seu capital, independente do quanto se trabalhe, é sempre o mesmo. E finais de mês sempre envolvem fechamentos horas extras não pagas por de trás da faixada de "cargo de confiança". Assim, Antony Helmans tinha o cargo mais chato do mundo, contador de multinacional.

Apesar de seu emprego inglório, Antony sempre contou com um raro senso de organização e uma satisfação quase orgasmática ao organizar gavetas, caixas, armários, antiquários e recibos. Assim Antony encontrava certa satisfação em sua vida.

Solteiro, morador de um apartamento no centro, com a única companhia uma planta carnívora, Antony levava a vida no limite da felicidade que a posição de funcionário mal remunerado e preso na classe média pode proporcional. Não fosse um dia, o fatídico dia, em que acordou, deu bom dia para a sua planta como sempre fazia, na direção do quarto ao banheiro, e a planta respondeu...

- Bom dia plantinha. - Disse Antony - E pigarreou forte, pela voz fina da manhã...
- Gargantrel!
- Você falou algo?
- Gargantrel!

Antony demorou a se dar conta a duas coisas: a primeira é que a planta tinha sua altura e tamanho, ocupando um metro e setenta e quase 80 centímetros de circunferência. A planta agora tinha um rosto no centro de um grande copo formado pelas folhas, e sobre o topo, as folhas se fechavam formando uma boca absurda e impossível. - Hum.... - Fez Antony, se dando conta de outra coisa. Agora ele tinha peitos, apenas um metro e setenta, e não dois metros e dez, e seus cabelos, antes escassos, agora formavam uma juba lindíssima e ondulada, cheia de cachos.

- Acho que algo está errado. - Disse Antony que agora se dava conta que tinha a voz da Ivete Sangalo. - quanto bebi ontem à noite?

Ao olhar pela janela, seu quarto que agora era rosa e coberto de ursos de pelicas, se deu conta que vivia um mundo maluco. Talvez um sonho? Criaturas bizarras auxiliavam humanos pelas ruas em tarefas cotidianas, como limpar a calçada e aguar as plantas. Ou era o contrário? Ao olhar sua bolsa, que bolsa é essa?, ele se deu conta que se chamava Derleth, e que agora era contadora da empresa botânica mundial.

- Algo realmente está errado. - Disse a agora Arleth, com a voz de Ivete Sangalo, e iterou: - Alelêê... Um hobby um lobby, um love com você... Êeê...

Derleth percebeu que vivia com sua consciência em um mundo de sonhos. E não tardou a encontrar outros que como ele, isto é, ela, agora também sonhavam, mas tinham consciência do sonho que viviam. Não tardou a conhecer Bloch, que era como ela, e outros, que criaram o time Eibon, cujo objetivo era descobrir o que estava acontecendo e como retroceder o que era. E se havia algo que Derleth sabia fazer desde sua vida como contador, era organizar dados, analisar e gerar relatórios. E Derleth, após comprar sapatos e um vestido combinando (e já que estamos, uma bolsa), compreendeu exatamente o que estava acontecendo. E o que ela deveria fazer: matar os cinco deuses que estavam competindo para dominar o mundo de sonhos em que viviam, e ela não descansaria enquanto não conseguisse isso...

Ela iria destruir ao Pokéthulhu, e salvaria a raça humana. Ou seu nome não era Antony! Ou Derleth!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RPG - Classe/Raça: Kobold

Overthinking Back to the future

Geração Xerox