Capítulo 12: Os pais de Flock

Já que temos um parênteses aqui, deixem-me contar sobre os pais de Flock. Flock Shields, filho de Brooke e Paul, era um garoto que não disfarçava sua indecisão sexual. Desde pequeno pedia para os pais o boneco masculino da Bárbie, e sejamos francos, quem compra aquela porcaria de Ken, a não ser meninas que querem brincar de Bárbie divorciada?

Seus pais sabiam que haviam errado em algo com seu filho. Seus empregos também não ajudavam, pois ele era caixa de banco público e ela, caixa de supermercados. Estavam presos, para sempre, na caixa média, isto é, na classe média baixa. E eles suspiravam de tristeza a cada vez que seu filho aparecia com sapatilhas de balet, com uma boneca que "uma amiga havia esquecido com ele", com um vestido... Era um caso perdido.

Seus pais pensaram em mil maneiras de escapar desta cilada. Passar a vida na classe pobre da vida, com um filho que seria a referência de todos os vizinhos, não era algo que estava nos sonhos deles, quando os mesmos namoravam na praia e faziam amor dentro do oceano. Também não estava em seus planos a gravidez, mas até aí, é consequência natural de quem faz amor no mar, sem nenhuma prevenção. Mas o que saiu errado ao seu filho? Logo começaram as acusações, "aquele seu tio nunca me enganou", diz o pai. "Sua mãe gosta de jogar boliche, quem é você para falar algo?", gritava ela. Mas o choro compungido do pequeno bebê deles sempre os silenciava. Só restava uma decisão, fugir. Deixar tudo para trás, e começar de novo, onde foram felizes, na praia.

E assim, na noite anterior ao mundo acabar como o conhecíamos, eles deixaram seu único filho para trás, e partiram para a praia, para uma barraca de coco, e largaram mão de tudo, de tal forma, que até hoje, após o mundo acabar, não perceberam que a ordem natural das coisas, e que o coqueiro de onde sacam seu produto de venda agora responde a todos os bom dias de forma acalorada e feliz, tão exageradamente, que chega a soar falso:

- Bom dia! Estou super feliz de lhes dar o coco de cada dia!

Nem mesmo isso indicava que o mundo havia acabado, tão felizes estavam, de voltar às coisas simples...

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