Capítulo 3: Leah

Leah acordou ansiosa. Estava feliz pelo seu aniversário e havia dado ordens específicas aos seus pais, seus subalternos. Ela queria uma bicicleta rosa, um bolo rosa, uma nova boneca e um vestido com sapatos de salto. Mas sua felicidade logo sumiu. Ela acordou às 10 da manhã, e não às 6, com seus pais cantando parabéns para ela. A casa, aliás, estava deserta. Não havia ninguém. Nem seus pais, nem a dúzia de criados que ela costumava ter.

Ela andou pelos seus quatro quartos, um de cada estação. Como esperado, o de inverno estava demasiado quente para o ser usado no verão. Os de primavera e outono só mudavam que o primeiro era de cores claras e fortes e o segundo de cores cinzas e sorumbático, mas ambos tinham a mesma temperatura. E o de verão, era o mais fresco,  claro. A lembrança de um sonho estranho lhe invadiu a mente, enquanto chegava à cozinha. A memória de um oceano gigantesco, e uma criatura indescritível que lhe observava, uma criatura octapóide, bizarra, de tronco largo e no lugar da barba, tentáculos. Definitivamente, ela iria cortar os sorvetes de antes de dormir, afora os sonhos, ela poderia, "Deus me livre", engordar.

- Não fique triste garotinha. - Disse uma voz profunda e sóbria, como se o próprio Morgan Freeman estivesse na cozinha aquele instante.
- Quem disse isso?
- Quem disse isso? Repetiu a voz.
- Eu sou Leah, dona desta casa, e ordeno que você apareça!
- Desculpe, Leah? Ah, você já acordou, eu estava distraído.
- E quem é você? E como falou comigo, enquanto se estava distraído?
- Eu não falava com você. Eu falava com o a TV. Estou assistindo a um filme muito bom.
- Filme? Mas eu não ouço nada.
- Desculpe, eu estou assistindo você, você é meu filme. Não esperava que já estivesse me ouvindo.
- Eu sou seu filme? Eu sou a estrela?
- Não.
- Ah... E quem é você?
- Eu sou Scuttle, o deus marinho, sou todos os animais dos mares e rios que você já viu, combinados.
- Hum... - pensou Leah, sem disfarçar a fome que lhe deu a imagem de camarões, polvos, lulas, e salmões, combinados! -
- Nem pense nisso Leah. Eu estou vendo uma reprise da sua vida, e sei o que pensou agora.
- Ah... Você poderia falar isso sem alterar o filme?
- Não.
- E assim mesmo?
- Não me importa mudar o filme, e para você, importa muito.
- Como assim?
- Oras, você não iria gostar do que iria se tornar anyway...
- E o que eu iria me tornar? Rica, linda, maravilhosa? Uma cantora de sucesso?
- Não, nada disso. Seus pais irão se matar, se já não fizeram, de desgosto da filha que criaram. Deixarão, ou deixaram, você fora do testamento, e você irá se casar com Berto, que lhe dará uma vida miserável, num trailer, com 8 filhos. Eu gosto mais da nova história.
Leah fazia uma cara de nojo ao pensar em Berto, no Trailer e nos oito filhos, sem se importar com o fim dos seus pais de qualquer forma.  Então lhe ocorreu, e qual seria seu novo filme?
- Bom, ao que parece, você ainda não e importa com seus pais, e seu futuro? Ah, no meu filme é muito melhor, você se casará com uma cantora famosa e irá adotar dois filhos. E será muito rica!
- Isso parece melhor mesmo. E o que eu preciso fazer?
- Só precisa me adorar, e me ajudar a vencer os outros sacerdotes do mundo.
- OK, foi tudo que Leah disse, e ficava pensando, "Rica! Serei Rica!".

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