Capítulo 1 - Na igreja de Varsellas

Quando o cavaleiro semi-morto caiu sob o arco da cidade, as mais velhas já tiveram certeza de que era um mal presságio, mas quando o corpo morto deste cavaleiro saiu trotando pelas portas do próprio templo, duas delas morreram do coração ali mesmo.

Pelo meio da tarde mais perfeita do mundo, Mestre Septimus caminhava com seu aprendiz ao seu lado, enquanto filosofavam sobre a vida, foi quando um dos soldados, Drollas ou Dagger, se aproximaram gritando: "Abram passagem, abram passagem, homem ferido!". Septimus voltou seu rosto ao pobre homem, um camponês das fazendas ao norte. Com feios cortes, mordidas de animais talvez, em torno do pescoço e punhos. "Esse lutou bem", pensou o clérigo.

"O encontramos sob o arco dos muros, Sacerdote", se dirigiam ao Mestre Septimos, "ele estava muito ferido e disse que a guerra vem em nossa direção, que é para fugirmos". O mestre olhou bem nos olhos do ferido, e disse ao soldado que fechassem os portões, por precaução. "Me ajude aprendiz, vamos levá-lo para dentro".

No semi porão, algo entre o subsolo e o piso elevado da capela, uma região fria, mas muito aprazível, em uma cama de pedra, Septimus colocou o jovem numa posição de descanso e começou antes de mais nada, uma prece de melhoras sobre o corpo, mas ficou surpreso ao ver que não havia melhor alguma nos ferimentos do corpo. Nada. Septimus consultou sua consciência e buscou ver algo à mais do que um jovem camponês, talvez 19 anos, sobre uma cama de pedra. Nada. E isso era muito ruim. Nada. Nem mal, nem bondade. Nem verdade, nem mentira. Nada. Mas ele tinha pulso e respirava.

"Aprendiz, uma vasilha de água benta, prata, acônito e ervas do rei", gritou Septimus. Seu aprendiz recém saiu da sala, quando os olhos do jovem abriram arregalados, o corpo arfou como se estivesse respirando depois de muito tempo abaixo da água e ele pareceu tremer onde estava. Olhou ao redor, com cara de espanto, buscando compreender o que havia acontecido.

"Acalme-se meu jovem", você esta numa casa sagrada. Sou Septimus, mestre desta capela. E você, quem é:
"Antony. Me chamo Antony". A voz vinha fraca e desproporcional com a reação do corpo. "Estamos todos mortos, evacuem a cidade. Eles não morrem nunca. Nunca!".
"Quem não morre nunca?"
"Eles. Eles mudam a gente. Nós mudamos. Deixamos de ser... humanos".

Septimus sentiu malícia e verdade nessas palavras. Algo devorava a consciência do pobre jovem e não parecia reagir à nada, nada do que ele fazia. Suas preces não ajudavam, nem funcionavam no corpo do jovem. Prata, acônito, ervas do rei. Nada reagia nas feridas daquele camponês.

"Coloquem todos nos barcos, mulheres e crianças no barco, agora. Separem dois soldados para ir no barco e evacuem a cidade, agora. E aprendiz, vá com eles!".

"Mas Mestre Septimus, o que está acontecendo, por que é tão grave? Por que ele não está respondendo aos seus milagres?".

"Não é ele que não está reagindo aos meus milagres, Incligan, são meus milagres que nos deixaram". O divino nos abandou...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RPG - Classe/Raça: Kobold

Geração Xerox

Overthinking Back to the future