Santa Maria/RS - um ano da tragédia.

Há um ano o Brasil conquistou mais uma marca triste. O terceiro pior incêndio do mundo. Foi numa casa noturna chamada Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde as chamas iniciadas, possivelmente do show pirotécnico feito pela banda, espalharam-se pelo revestimento acústico da casa e matou mais de 200 pessoas. Deixou outras quase 200 feridas.

A casa não tinha alvará de funcionamento há um ano, na data da tragédia. Alguns seguranças, sem saber o que estava acontecendo, tentaram impedir que as pessoas deixassem o local sem pagar. A própria banda tentava apagar o fogo que havia começado. Havia somente uma, das duas portas de saídas de emergência funcionando. Tudo isso foi dito no dia da tragédia, algumas coisas foram desmentidas, outras surgiram. Tentaram culpar a banda, os seguranças, o dono e o próprio público pelo problema.

Bandas fazem show com elementos pirotécnicos. Sempre fizeram, mas soa idiota e óbvio quando alguém diz que o incêndio começou dessa forma, uma "evidente" culpa da banda. O primeiro show que fui na minha vida, com meu irmão do meio e um grande amigo, foi um show do Kid Abelha. Em 1994, e Paula Toller já era gostosa bonita como sempre foi... O segurança da casa, logo no início da abertura do salão já avisou: primeira fila, cuidado, o show abrirá com fogos. Não rojões, mas aqueles jatos para o alto de pólvora queimada, como um buscapé parado. Foi sensacional, e ditou o ritmo do show.

Ozzie Osborn na sua apresentação no jubileu de ouro da rainha da Inglaterra, usou os mesmos fogos para abrir seu show, ainda que tivessem pouco sentido à luz do dia. No mesmo show, uns 10 artistas usaram esse recurso. Insisto neste argumento, por que o segundo lugar do ranking mundial de tragédias por incêndio foi outra casa noturna, na América Latina, chamada República Cromáñon, que em 9 de dezembro de 2004, feriu 1495 pessoas e matou 194. As mesmas causas: show pirotécnico da banda, poucas portas de saída de emergência, casa superlotada e sem alvará de funcionamento.

Lá na Argentina, o governador da cidade foi destituido num impeachment, a casa fechada, mas presos mesmo, foram os membros da banda. Lá, como no Rio Grande Sul, eu duvido que cada elemento da banda tenha entrado com um rojão escondido no bolso, para "surpreender"no meio do show (posso estar errado, claro), mas estas coisas tendem a ser preparadas antes. Alguém sabia que teria, alguém aprovou ter. A banda de lá, um morreu de desgosto, outro faz terapia e um terceiro caiu nas drogas. Assimilaram a culpa que lhes foram impostas.

De 2004 para 2013, os mortos foram em maior quantidade, ainda que numa casa de proporções menores. Houveram menos feridos, o que só torna o espetáculo negro mais triste, a proporção letal foi maior no Rio Grande do Sul. Haverão mortos indiretos em Santa Maria, como houveram em Buenos Aires: o isopor dos isolamentos tem uma propriedade física incomum, chamada sublimação: passar do estado sólido para o gasoso sem passar pelo líquido. Nas duas casas de show, várias pessoas inalaram isopor, absorvido pelo organismo, com consequências perpétuas.

De diferente entre as duas tragédias, há a cultura dos povos. Na Argentina, desde 2004, todo 9 de dezembro há uma passeata na cidade, "Por Cromáñon", "Para que se lembrem", "Para mostrar que não esquecemos", dizem suas faixas. Aqui no Brasil, eu não sei como será hoje, um ano após a tragédia. Espero que não seja apenas uma nota triste, no Jornal Nacional, entre uma matéria de cachorrinhos e os gols da rodada...

Notas da tragédia de 2013: http://lec.blogspot.com.br/2013/01/tragedia-em-santa-maria-rio-grande-do.html

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