Overthinking 47 Ronins

Atenção. Contém spoilers. Leia por sua conta e risco, preferencialmente somente depois de ver o filme.

O filme os 47 Ronins com o famoso “Neo Anderson”, vulgo, Keanu Reeves, é um filme de ação fantástica ambientando no Japão feudal. A história transcorre sobre um nobre e honrado senhor feudal que é traído para parecer inferior diante do imperador, em uma importante competição que ocorre entre todos os territórios do imperador e seus senhores feudais. 

Desonrado, o senhor feudal é obrigado a cometer suicídio, para lavar sua honra e seu nome, deixando sua filha para ser casada com o autor da tramoia e seus samurais, sem um senhor, fazendo-os assim, Ronins. Então a história realmente começa, com a organização destes Ronins com uma missão, buscar justamente aquilo que o imperador os impediu, vingança contra o seu senhor, crime que é punível pela morte. 

O filme, deslumbrante em imagens e paisagens, também consegue três facetas incríveis: tornar a estrela dos cartazes, Keanu Reeves, em praticamente um coadjuvante ao longo de quase toda a trama, sua participação é apagada, discreta e por isso mesmo, perfeita. Tão diferente de outros filmes que já vimos, quando norte-americanos decidem colocar seu olhar sobre a magia e mistério do Japão antigo. Tom Cruise que o diga. Aliás, dos 47 Ronins, o núcleo principal é arquitetado por 6, que fazem as "side quests" até a vingança final, buscando por armas, recrutando soldados e aliados. E ao longo de tudo isso, é correto dizer que nenhum deles é um herói mais importante do que os demais. 

Esse é o segundo ponto de sucesso do filme, um filme que narra a saga de um grupo, genuinamente unido e igualmente distribuído. Cada qual do grupo tem sua contribuição. Cada qual é igualmente importante para a história.

A última faceta incrível deste filme foi a forma como inseriram os elementos fantásticos da cultura oriental, sem tantas explicações para os espectadores, e ainda assim muito simples de serem compreendidas. Tudo foi inserido de uma forma natural e harmônica à história. Até o background de Keanu fica perfeito e bem clara. 

Mas nenhum destes elementos é tão importante para o filme, quanto é seu final. Os Ronins, organizados, conseguem vencer o senhor feudal vizinho e vilão, vencem as criaturas místicas, e lavam a honra de seu senhor e sua família. Um filme estadunidense terminaria aqui, com o imperador do Japão dando tapinhas nas costas dos samurais e tudo terminaria num musical da Broadway, com o casal feliz olhando o sol vermelho no horizonte e a silhueta da mulher indicando uma gravidez. Final feliz... Só que não.

Quando vão buscar vingança, eles sabiam que haviam jurado ao imperador, sob a pena de morte, que não deveriam fazê-lo. Quando reúnem os Ronins, todos são informados que o único sucesso desta missão seria a morte, conseguindo ou falhando. E quando a história termina, e o imperador viu que houve injustiça contra eles, retira sua pena de morte, e a converte em uma pena de suicídio, para que eles possam expurgar seus crimes e serem enterrados como samurais, e não como Ronins. E eles se matam, felizes, de uma forma que deixa indignada a plateia. Eles não foram enganados e traídos? Não fizeram tudo certo quando tudo mais falhou? 

Mas é ai que reside a honra e um censo de orgulho que realmente poucos de nós, ocidentais, podemos compreender. Assim como apregoa a bíblia e tantas religiões que esta vida é somente uma passagem, um teste, para a próxima vida, com outros preceitos os orientais também acreditam nisso, mais, acreditam que a única recompensa que alguém pode levar desta vida, é deixá-la com honra. E isso é simplesmente perfeito, e que retira o filme Os 47 Ronins, da posição de um mero filme de ação e o eleva, ao optar pelo final forte, mas corajoso, a posição de um filme maravilhoso. 


E ainda de sobra, não deixa pano para continuações bizarras que futuros roteiristas queiram fazer...

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