Quem é dono do que?

Dentre os vários motivos para afirmar que vivemos numa época triste, do ponto de vista da política, da saúde e educação do Brasil - tão sucateadas, do politicamente correto tão hipócrita, o que realmente me irrita, é que hoje, não somos realmente donos de nada. Ou será que nunca fomos?

Nem me lembro que disse que o ser humano é o único animal da Terra que tem que pagar para viver nela. Mas isso vai a casos extremos no que tange a propriedade intelectual. Deus, como tudo é tão difícil nessa era! Já discuti que descobri que não sou dono dos dados do iPad, quando acidentalmente formatei o PC e não fiz backup dos dados do iTunes porque, bem, eles estavam no iPad, não é mesmo? E aí descobrimos que os dados para iPad, partindo do PC, são de mão única, eles não voltam. No mesmo computador, com o mesmo MacOS, com o mesmo usuário e senha do iCloud, nem mesmo a mais vulgar das fotos que você mesmo tirou, poderá ser devolvida ao Mac.

Agora, tem outros problemas que têm me irritado, claro. O primeiro é o filme comprado na iTunes Store. Ele só poderá ser visto em seu próprio dispositivo ou em uma TV com um AppleTV na mesma rede WiFi do seu dispositivo (iMac, iOS). Em síntese, aquele filme que você comprou para ver com a família, não vai ser reproduzido se for na TV da casa dos seus pais e não na sua, pois lá não tem AppleTV.

Músicas têm o mesmo problema, embora esse seja fácil de solucionar com uma saída de áudio auxiliar, todos da sua casa podem compartilhar o momento. Mas experimente tentar criar um filminho caseiro, no iMovie, com conteúdo que você comprou, músicas e filmes. Impossível. Você tem que filmar sua própria tela, gravar seus próprios Speakers e, com mais meia dúzia de trapaças, o filme sai. Daí você tenta publicá-lo no Youtube, e toma strike, onde os donos dos direitos daquele material pedem (obrigam) seu canal a sair do ar.

O mundo tá tão maluco, que hoje é mil vezes mais fácil usar material pirata, com fontes mais confiáveis, mais fácil de comprar, acessar, com mais opções de customização, do que usar um material adquirido de forma legal.

Agora, vá você tentar reclamar, sendo pessoa física, que algo seu está em uso indevidamente. Eu mesmo tirei já um livro meu do ar, por que ele tinha muitos erros (um bilhão deles, mas isso não vem ao caso), mas a livraria o disponibilizou, com minha autorização, a vendê-lo também no Google Play. O problema, é que a mesma livraria não pode (ou não sabe como) tirá-lo do catálogo do Google Play. A parte pior ainda? Eu não recebo os direitos autorais daquelas vendas. (eu sei por que eu mesmo me comprei uma cópia, e não aparece nos meus direitos à receber).

Cara, hoje tudo tem algum canal gerenciando o uso que você faz daquilo que você compra. Eu juro, me arrependo de cada CD e filme que já comprei online. Juro. Nada daquilo é meu, é um empréstimo, e o pior, é pegar algo emprestado de alguém muito chato, que fica olhando, a cada segundo, como e para que você utiliza aquilo, se assegurando que você não vá, sei lá, se divertir com o material comprado!

PS: Ironicamente, você pode ver um filme que você comprou do iTunes, num PC, onde você baixe o iTunes, conecte-se com sua conta, baixe o filme e espete o PC numa TV ou monitor pelo VGA ou HDMI. Irônico, por você só não pode usar seus dispositivos móveis para ver filmes, mas desktops e laptops, sem problemas! Se forem PC, onde o iTunes não consegue gerenciar onde a imagem está sendo transmitida, melhor ainda! Obrigado Apple, por criar soluções completas para PC's!

Comentários

Editora Delearte disse…
Verdade desanimadora....

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