Obsolescência programada: internet


Recentemente adquirir um Mobo M970, com 512Mb RAM e processador de um núcleo, VIA 1,2MHz, tela de 8,7 polegadas e HD de 60Gb. Uma máquina incrível, da era dos netbooks, e que alçou a Positivo a um lugar de destaque por agarrar-se à onda dos Netbooks bem à tempo, com seu Mobo anterior, de apenas 4Gb de HD, FlashDrive. Roda Fifa2001 tão bem quanto faria na época do lançamento do mesmo. Os editores de textos e planilhas são tão bons hoje, quanto era quando a máquina era nova. E foi para isso mesmo que comprei. Editar textos, fazer os trabalhos da faculdade, que volto a estudar ano que vem, TI no Claretiano, e linguagens de programação como Notepad++.

Suas configurações espartanas fazem par hoje ao iBook de 2001, com 564Mb de RAM, o máximo para uma máquina como aquela, com um único slot de memória DDR (máxima de 512Mb) e 32Mb de RAM soldados à placa mãe. O iBook conta com um HD de 40Gb e um processador PowerPC de 500MHz (segundo diziam, equivalia ao dobro de processamento de um processador PC da época). Ela também é tão boa hoje, quanto no dia que foi lançada, para escrever textos, planilhas, apresentações. Utilizo lá uma versão modificada, e paga, do OpenOffice, adequada aos processadores PowerPC da IBM, que a Apple de então usava, e roda o Mac OS 10.3, Panther.

Ambas as máquinas têm suas funções claras. Ouvir música, jogar Diablo, escrever textos: iBook 2001. Jogar Fifa2001, escrever textos e programação, para a faculdade, o Mobo M970. Ambas as máquinas, contudo, são absolutamente inúteis, não apenas para programas atuais, mas para a internet.

Acho que não percebemos quão complexa a internet tem se tornado ao longo dos últimos anos. PHP, CSS, HTML5 e tantas outras linguagens que não existiam no tempo destas máquinas. Isso aliado aos seus padrões antigos de placa WiFi a/b, e essas máquinas estão mortas hoje, para as mais elementais das tarefas, aquelas que  90% dos computadores realizam, navegar no Facebook, Twitter, Gmail, Google.

Os padrões de email não evoluiram, POP3, SMTP. O HTML embarcado num email não evoluiu muito. Os processadores de textos não mudaram. Ficaram sim, inexplicavelmente mais pesados, o Office97 do Mobo pesa 200Mb. O Office 2014 que tenho no trabalho, 1,2Gb! Mas como regra geral, fazem o mesmo. No mesmo formato padrão, .doc, .xls, .ppt.

Deliberadamente ou não, o que tem matado a vida destas máquinas antigas é sim a internet. Incapazes de navagar, de executar um vídeo do Youtube, um usuário regular realmente não teria quase nada para fazer com um computador antigo. Eu mesmo navego hoje, nestas velhas máquinas, usando alguns truques, para não me isolar totalmente: páginas da UOL, que felizmente quis o tempo que não evoluissem tanto assim, principalmente se você puser um "m." no lugar do "www". Emails pelos programas de emails. A versão mobile do Twitter também é bastante resistente ao tempo. Até no Palm TX dá para usá-la ainda.

Mas no geral, não foi nenhuma lei de Moore, ou sistemas operacionais mais complexos que mataram os PCs antigos, mesmo usando linux de baixa demanda de hardware. Foi a contínua e silenciosa revolução da internet e seus padrões, que enterraram bons e velhos hardwares, convertendo-os à máquinas de escrever, se tiverem a sorte de ao menos ter um escritor por perto.

PS: esse texto foi escrito no Mobo M970, rodando Lubuntu, numa versão antiga do FireFox (início de 2014, não tão antiga...).

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