Curiosidades do Literótopo: Manuel Bandeira!
Dando continuidade aos nossos Curiosidades do Literótopo, esta semana vamos abordar o famoso poema de Manuel Bandeira, Os Sapos!
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
—Meu pai foi à guerra!
—Não foi! —Foi! —Não foi!
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte!
E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...
Urra o sapo-boi:
—Meu pai foi rei
—Foi! —Não foi!
—Foi! —Não foi!
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
—Sei! —Não sabe! —Sabe!
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.
1918
Leia mais: http://www.mensagenscomamor.com/poemas_e_poesias_de_manuel_bandeira.htm#ixzz3fzWlgkGX
Comentários