Overthinking Back to the Future



E você achou que eu iria deixar a data passar em branco, né? Chegamos e passamos por aquele momento em que os três filmes "Back to the Future" se passam no passado. Os distantes trinta anos de 85 à 2015 se passaram sem carros voadores ou pranchas flutuantes, o Fax foi derrotado e não tivemos tantas continuações do filme Tubarão... se ao menos tivessem apostado nas franquias do filme Star Wars estariam muito mais perto da verdade.

Mas acho que todo mundo já leu em algum lugar quase tudo que se pode dizer dos três filmes e seus sucessos e fracassos, com uma louvável exceção: a relação tempo-espaço das viagens.

Você sabe: no início do filme um o Dr. Brown nos diz que se Delorean não pode viajar no espaço, apenas no tempo, por isso, viajar em Hill Valley de 1985 só pode te levar à outras Hill Valleys de outros anos. Mas para ir de Hill Valley 1985, para Nova York de, digamos, 1929, você teria que escolher entre: ou ir à Nova York e então viajar no tempo, ou viajar no tempo e depois à Nova York. E com um Delorean carregando plutônio, não seria a viagem mais fácil do mundo. Nem em 85, nem em 55 e nem em 29.

Pois bem. Dentro dos erros e acertos dos três filmes, os críticos mais ferrenhos se apegam justamente ao fato que seria impossível viajar no tempo sem viajar no espaço. Veja, a Terra tem dois movimentos: rotação e translação. Ao viajar no tempo, do ponto A ao mesmo ponto A, um minuto que seja, seria a diferença entre estar na praia num instante, e no minuto seguinte dentro do mar, pois a Terra gira à 1666 km/h (ou seja, em 24 horas gira seus 40.000km de circunferência), o que significa que a Terra gira à 462 m/s.

Em um minuto de nossa hipotética viagem ao futuro, sua posição já seria 27 km diferente do ponto de origem. Como iniciar sua viagem na Sé e um minuto depois estar em Itaquera. E isso, pensando apenas na rotação da Terra, e ignorando a translação, o movimento da Terra ao redor do Sol. Ou seja, se viajarmos tempo o bastante, podemos nem estar na Terra quando ressurgirmos. apenas flutuando num espaço vazio onde a Terra ainda vai chegar ou já passou. E isso ignorando o balé que nosso sistema solar faz na Via Láctea, nossa Galáxia.

Mas então, o filme errou mesmo nessa questão, certo? Beeeeeem... Talvez o Dr. Brown tenha errado, e o filme esteja certo. Se ignorarmos a parte onde o Sistema Solar também gira, e ficarmos só com a rotação e translação, aí, pode ser.

Acontece que no filme dois vemos um deslumbrado Dr. Brown com a coincidência de que entre tantos dias do passado possíveis, Biff Tannen tenha retornado justamente ao mesmo ano que o Marty também voltou no filme um, e bom doutor chega a considerar que aquele dia de 1955 talvez fosse um entroncamento cósmico. Ou talvez fosse apenas a máquina do tempo buscando um ano que a Hill Valley estava onde estava, no espaço e no tempo!


Agora com licença, esse overthinking me fez precisar de um comprimido para dores de cabeça...

(essa dissertação foi inspirada no maravilhoso livro de Randall Monroe, E Se...)

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